Amigos do Fingidor

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre Um hóspede chamado Hansen

Jorge Tufic é um artífice da palavra. Na poesia, na crônica, no ensaio ou na ficção, emana de seu texto, com um halo de magia, o domínio técnico, aliado a um conhecimento em constante evolução e, sobretudo, um talento que não conhece limites. Afirmo isso com a sinceridade de um convívio no limiar das três décadas, iniciado quando travei, por intermédio de jovens amigos comuns, contato pessoal com o poeta, a quem aprendera a admirar a distância. Uma qualidade desconhecida foi logo realçada naqueles encontros iniciais: a generosidade de Jorge Tufic, capaz de dedicar horas de seu raro tempo para nos passar noções de poética; falar, nem sempre bem, das vanguardas em voga; dos poetas que começavam a ser conhecidos e estudados no Brasil, e mereciam nossa atenção, como Eliot, Pound e Cummings; também da sua paixão pelo soneto, que não compartilhávamos, mas que nos seduziria àquela forma, inexoravelmente. Tudo isso entremeado com histórias da boêmia e dos primórdios heróicos do Clube da Madrugada.

Sobre os demais gêneros praticados, a poesia de Jorge Tufic se destaca, caracterizando-se pela diversidade – o contemporâneo convivendo com a tradição e a experimentação, com as formas fixas. Na ficção, como já ficara demonstrado nos contos de O Outro Lado do Rio das Lágrimas (1976), não é diferente, pois ele não se contenta em “apenas” contar histórias: a linguagem é sua seara, onde planta experimentos e colhe textos de altíssima tensão literária.

Um Hóspede Chamado Hansen o aproxima da marca dos cinqüenta títulos publicados. O que poderia ser apenas mais um livro de um escritor consagrado é uma aventura na linguagem – para o autor e o leitor. Contendo uma novela, que dá título ao volume, e dez contos, o livro é um passeio por uma baudelairiana floresta de símbolos. A começar pela novela: uma alegoria da condição humana sob a ameaça constante do Mal. Os contos, de no máximo página e meia, condensam metáforas que pedem, no mistério do silêncio que as cerca, uma leitura calma, para uma reflexão sem pressa. Não estou aqui falando de hermetismo, mas do silêncio, da calma e da reflexão que a boa literatura exige e pede.

O leitor antigo de Jorge Tufic vai, neste livro, reencontrá-lo em sua melhor forma. O leitor neófito terá oportunidade de conhecer um dos mais brilhantes escritores brasileiros em ação neste início de século.
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(Zemaria Pinto, na orelha de Um Hópede chamado Hansen, de Jorge Tufic)