Amigos do Fingidor

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A teoria revelada
Rogel Samuel
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Quando recebi o belo livro de Zemaria Pinto, "O texto nu" (Manaus, Ed. Valer, 2008), logo pensei, pelo título, tratar-se de obra de poesia. Por sabê-lo poeta. Bom poeta. Mas qual surpresa foi a minha ao ver que abria um volume de teoria literária. E mais ainda, um compêndio teórico prático, didático, das diversas teorias literárias, o mais claro possível, o mais facilitado possível, bem escrito, pelo seu bom estilo, para o público em geral e alunos da graduação em letras.
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O título não engana, porém. Ali a teoria da literatura - como ele a chama - está nua. Desnudada, sem véu.
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Entramos lá num terreno complexo, variado, infinito, que é aquela disciplina plural, entre filosofia e ciência, vasta e renovável.
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Poucos são os bons manuais que sobreviveram, por isso. Porque novas teorias sempre aparecem. Localizadas, nacionalizadas. Porque o teórico da literatura deve saber de tudo o muito necessário para dar conta de suas tantas faces daquele conjunto de saberes: a lingüística, as estéticas, as filosofias, as diversas línguas, as diferentes literaturas nacionais etc.
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Eu me lembro de que, quando iniciei por concurso minhas aulas na Faculdade de Letras da UFRJ me jogaram aos leões, e o joguei durante vários anos, numa maluquice, uma infernal disciplina que se chamava "evolução da literatura", aquela loucura, trapalhada, pois o curso ia desde a Idade Média até as Vanguardas!
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Quem é capaz de saber, de dominar tudo aquilo?
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Depois o curso foi extinto.
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Mesmo assim é a teoria literária francesa, norte-americana, alemã etc.
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Um dos maiores talentos brasileiros, que foi José Guilerme Merquior, caiu naquela armadilha, a de escrever sobre tudo e sobre todos: Freud, Marx, Hegel, etc. Assim um grande filósofo brasileiro, o Mestre Ivan Lins, comentou que passara a vida inteira lendo Hegel. E no final da vida afirmou: "Estou começando a compreender..."
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Mas não caiu no laço desse ardil o escritor e poeta Zemaria Pinto. Ele só expôs, no seu livro, as idéias claras e clássicas e consagradas, as mais conhecidas, mais gerais, de maneira direta, sem viés, sem polêmica. Basta dizer que ele não cita ninguém durante o texto, só na bibliografia, onde nos orgulhamos de estar, com dois títulos.
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(Publicado originalmente no blog de Rogel Samuel, autor do Novo Manual de Teoria Literária, ed. Vozes)