Zemaria Pinto*
O paradoxo de Santo Agostinho é o ponto de partida para qualquer reflexão sobre o tempo: “se não me perguntam o que é o tempo, eu o entendo; se me perguntam, não sei explicá-lo.” As noções de passado e de futuro transformam-se em névoa quando nos damos conta de que não conseguimos entender as contradições do presente. E o que dizer quando olhamos para o céu e vemos a luz de estrelas que desapareceram há milhões de anos?
Reflexões Sobre o Espaço e o Tempo, de Demosthenes Carminé, trata desses e de outros assuntos provocantes, sempre ancorado no que de melhor o pensamento ocidental produziu sobre a matéria. A mim, particularmente, afeito ao problema da Literatura, me fascina o tratamento do tema na poesia e na ficção. Pois se tempo e espaço são abstrações – por isso, cada um de nós tem sua própria “explicação” para eles –, na Literatura, eles se transformam em desafio permanente a criadores e leitores.
Refletir sobre o tempo e o espaço é refletir sobre a vida. É o que faz Carminé neste pequeno-grande livro: um inventário filosófico sobre temas tão polêmicos quanto fascinantes, desde Heráclito até Einstein. Tempo e espaço compõem a essência vital do Ser: o movimento. Só o que é vivo se movimenta. Daí, nunca é demais lembrar que sobre a terra e sob o céu tudo está em movimento, inclusive o pensamento...
(*) Orelha do livro Reflexões sobre o espaço e o tempo, de Demosthenes Carminé, 2005.