revia, já sem muito entusiasmo, a coleção de besouros, quando o fusível queimou, mergulhando o sótão em completa escuridão. tinha medo de escuro, descobriu nos ruídos do velho forro da casa a presença de antigos moradores, fantasmas e duendes. tropeçava nos móveis, e o vaga-lume se revelou na escuridão.
momentos depois, a luz voltou a brilhar no abajur de papel crepom vermelho. mas ele já decidira permanecer no escuro, enquanto o vaga-lume picotava a escuridão em voos luminosos.
foi daí que começaram a surgir os demais vaga-lumes. até que, certa noite, quando o fusível queimou novamente, a luminosidade de seu corpo se sobrepunha à minúsculos vaga-lumes.
e ele se viu sozinho no sótão. sem medo de escuridão. sem os fantasmas. sem os duendes. apenas ele e a luminosidade de seu corpo.
(Adrino Aragão)