Amigos do Fingidor

quinta-feira, 25 de março de 2010

Amazonino Mendes, poetaço

João Sebastião


Vão dizer que eu tou de sacanagem. Mas, acompanhem o meu raciocínio. O “poema” ao lado foi publicado dia 1º de maio de 1960, em O Jornal, pelo então aprendiz de poeta e diz-que revolucionário Amazonino Mendes. Em pleno dia do trabalhador, em vez fazer um poema sobre aqueles negões de Portinari, que ele tanto admirava, sem sequer saber quem era Portinari, AM fala de amor... Amor?

Na verdade o improvável poema é um autêntico exercício de tanatofilia tautológica ou, se preferirem, tautologia tanatófila. Se não, vejamos. O atual alcaide da província manauara, tomando emprestado um tema de Kipling (e usando-o mal), faz um elogio da morte da amada, no melhor estilo parnasiano – a morte como castigo pela volúpia.

Poesia é, essencialmente, imagem, música e ideias. Quanto às ideias, deixo a conclusão por conta do leitor. Vejamos os aspectos... técnicos do poema. Claque: risos amarelos, a cor preferida do Maumenino.

A música de Amazonino, escondida sob uma falsa forma livre, é puro descompasso. O pretenso poeta não tem a mínima noção de ritmo e harmonia. Em compensação, as imagens são mal resolvidas, na redundância em que se encerram: rosas mortas esquecidas, “sem canção, sem música, sem réquiem”, como se música e canção não fossem conceitos que se superpõem – ou se canção e réquiem não fossem... música. O mau gosto de “a grande Mão Azul” lembra um dos ídolos de AM, Adam Smith (de quem ele deve ter lido todas as orelhas disponíveis): “a mão invisível do mercado”... “Apascentar o silêncio” seria uma imagem razoável se não se ligasse com a ausência da “mão”, em nova redundância. Os dois “versos” seguintes escapam à minha parca compreensão: “o lago fecha-se indiferente etc.” Será que o Negão queria dar uma “cor local”, cabocla, de raiz, à sua composição, por isso incrustou-lhe essa pérola?

Mas o melhor vem no “fecho de ouro”: à possibilidade da morte da mulher amada – “tão de repente”; assassinada? –, o “eu lírico amazonino” sai a fazer “infinitas viagens pelo mar”, provavelmente, com o dinheiro da vítima.

Freud explicaria, mas Amazonino é pré-freudiano, se é que me entendem...

Fonte: O Jornal, 1º de maio de 1960. Pesquisa do autor.