Letícia
Cardoso
Semana
passada, a caminho da universidade, esbarrei em uma ex-amiga.
Fazia dois anos que não nos víamos e alguns meses que não tínhamos contato
algum. Depois do breve encontro, fiquei com as lembranças da época em que
éramos mais próximas, amigas de verdade. De conversar todo dia, de ir para casa
uma da outra, de sair para lanchar, de virar noite adentro conversando pelo mensenger.
Taí, quase ninguém hoje utiliza essa ferramenta para conversar, pelo menos não
como antes. Está defasada por outros serviços como o WhatsApp, por exemplo.
Assim também a nossa amizade ficou para trás, coberta com poeira. Nesse dia,
mal sabíamos como nos cumprimentar. Havia um embaraço entre nós. Mas éramos tão
amigas, como pôde ter acabado assim? Será que eu fiz algo errado? Foi a
primeira coisa que tentei responder a mim mesma.
Então
me dei conta da minha brevidade. Sou uma pessoa breve. Não sei o que é ser
frequente, não consigo me manter constante. Algumas vezes eu passo sem ser
notada pelas pessoas, em outras eu fico ao lado delas, mas somente me percebem
muito tempo depois.
Frases
como “Você está aqui, nem lhe vi chegar!”, aparentemente inofensivas, têm sabor
amargo para mim. A verdade é que demoro na aproximação. Eu estudo, observo, não
gosto de cometer erros, tento evitar deslizes. Logo (mas não breve), eu espero
ter a certeza de ter conquistado a confiança, sobretudo, a sinceridade da
pessoa para que eu possa me entregar a ela por inteiro. Mas isso leva o seu
tempo.
Porém
o que me deixa triste mesmo é quando ela diz “Você está aqui?”, depois de eu
ter passado tanto tempo ao seu lado. Perceber que não fui notada dói. E vindo
de pessoa tão especial assim parece um punhal sendo cravado em meu peito. Eu
estava lá, mas você não me percebeu. Dentro de mim, um desejo pede por alguém
que diga: “Ainda bem que você chegou!”, porque então me sentiria especial.
Seria como se estivessem esperando por mim, ou melhor, que minha presença era
necessária.
Mas
parece que estou sempre atrasada para os outros. Atrasada, mas não no horário,
na importância da minha presença. Acho que demoro tanto para mostrar quem sou
que as pessoas cansam de esperar. Por isso que hoje estou me sentindo breve e
assim será essa quase-crônica. Porque o olhar entre nós não durou mais que dois
segundos.