Letícia Cardoso
Você
e eu estávamos juntos. Caminhávamos juntos. Eu lhe segurava pela cintura, você
abraçava meu ombro. Éramos um só corpo, uma só respiração. Andávamos no mesmo
passo, pensávamos as mesmas coisas, nem falávamos.
Agora
eu estou deste lado e você me olha daí. Não há uma ponte ou uma barreira. Não
há nada visível. Mas ainda assim parece que há um abismo nesses escassos metros
que nos separam. E eu me pergunto: por quê?
Por
que seus lábios não estão mais nos meus? Por que sua pele não está sobre a
minha? Por que eu não lhe sinto quando lhe toco? Por que você não me toca e não
me sente?
Não
me diga aquelas palavras. Não diga, pois elas machucam. Se for para dizê-las,
eu prefiro estar no silêncio. Mergulharei na escuridão dos seus olhos. Eu estou
mergulhando neste momento.
Não
quero saber o motivo que nos trouxe aqui tão longe. Eu quero esquecê-lo. Se
você tem a chave deste lugar, por favor, nos tire daqui. Vamos voltar para o
ponto antes de tudo isso, antes de toda essa bagunça. Só não tente me dizer
aquelas palavras que machucam, eu não quero ouvi-las.
Entenda,
se você as disser, você me quebra. Você me quebra, amor.
Estou
tão machucado, tão envergonhado. Tenho andado por dias, e sinto como se
estivesse em círculos, mas não encontro a solução para nós. Você a tem?
Meu
amor, por que você não me olha nos olhos? Mas se for para receber aquele olhar
vazio, por favor, continue sem olhar para mim. Eu não posso suportar mais
aquilo.
Eu
acho que não estou suportando isso. Eu sinto que... Eu sinto que meu ar se
esvai, que em minhas pernas não há mais forças. Eu estou de joelhos agora.
Eu
estou de joelhos agora. E de onde estou eu lhe vejo. E de onde você está você
poderia me ver, bastava um movimento seu. Eu estou esperando, eu estou
esperando por ele.
Eu
sigo aqui esperando por uma resposta sua. E os carros estão passando e a
velocidade deles é como um borrão. A vida para mim é só um borrão agora.
Eu
ainda estou aqui. Estou esperando por você. Meu corpo está frio pela chuva que
cai desde o início da noite. Você já saiu da cafeteria e subiu para o nosso
apartamento, ou melhor, o seu. Eu não consigo mais me acostumar com a ideia de
que suas coisas são apenas suas, minhas coisas não são mais suas, você disse
naquele dia. Se nada mais que é meu lhe pertence, então não há porque eu ter
algum bem. Você é a minha maior razão.
Eu
estou só aqui. Eu estou só aqui e sigo lhe esperando.
Meu
amor, eu não sei quanto tempo mais eu tenho aqui. Mas o tempo da minha alma é
todo seu. Venha me visitar.
Já
faz alguns dias que estou nessa enfermaria, foi o resultado da chuva daquele
dia e da minha alimentação irregular, mas eu não via mais o porquê de comer,
seguir uma dieta... Você tinha razão, eu nunca cuidei muito bem de mim.
Amor,
estou tão feliz que enfim você veio. Seus olhos, eles estão quentes e olham
para mim. Eu já disse o quanto eu amo seus olhos? Esse tom verde-cinza que
tanto me hipnotizaram, por quantas vezes eu me perdi neles? Agora eu me
pergunto, sem querer saber da resposta. Eu poderia passar minha vida toda a
admirá-los. Eu poderia ter feito isso, sem dúvida.
Não
chore, meu amor, não chore por mim. Eu te perdoo. Você veio no momento certo, e
eu não falo de hoje. Eu falo da primeira vez que nos vimos, e você me deu o
primeiro sorriso. Hoje, eu só preciso que você me toque. Oh, assim mesmo como
você está fazendo. Eu estou lhe tocando também, querida, saiba disso. Um último
pedido? Queria que você sentisse meus dedos que deslizam agora sobre sua face.
Estou
tão feliz porque você veio, meu amor. Estão me chamando agora. Eu tive uma vida
inteira esperando por você, e eu estarei esperando por você aqui também.
–
Espere por mim, meu amor.
Letícia Cardoso, estudante de Letras da UEA, tem 20 anos. A literatura feita no Amazonas se renova.
Letícia Cardoso publicará seus contos e crônicas neste espaço, na segunda e na quarta segunda-feira de cada mês.