Amigos do Fingidor

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Augusto dos Anjos de Zemaria Pinto



Rogel Samuel

 

Seis meses depois de recebê-lo, concluo a leitura do excelente livro de Zemaria Pinto: A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos (2012).

Como já se disse, somente agora me permitiram os trabalhos e os dias de fazê-lo.

Trata-se de um dos melhores estudos – dos mais completos – do poeta paraibano.

Mas é claro que trata de uma obra poética amplamente estudada, e o livro de Zemaria Pinto correu conscientemente o risco de investigar uma obra muito estudada, e não citar os textos conhecidos como o de Lúcia Helena em “A Cosmo-Agonia de Augusto dos Anjos”, além de Lúcia Sá etc.

Vou concentrar-me no budismo que aparece no poeta Augusto dos Anjos.

A noção de Budismo que existe na obra de Augusto é algo pessoal e mesmo “interpretada”, como de outros autores de sua época.

Os poetas não enfrentam nem poderiam enfrentar a complexidade budista.

Eu diria que o budismo passa a ser uma figura poética, retórica.

O budismo aponta para a “felicidade”, é o caminho da felicidade, da alegria. E vacuidade não é aniquilação.

O que o budismo tenta aniquilar é justamente a noção de “eu”, tão forte presença em todos nós.

Mas aniquilar o “eu” é dissolver os nossos problemas, e não o contrário.

O budismo é visto pelos poetas da época com o estigma da dor.

Não é assim nas diversas escolas de budismo.

Ninguém é mais feliz do que um grande monge budista.

O que o Buda viu foi o caminho que leva à felicidade, ao nirvana, que é bom no começo, no meio e no fim.

Mas o livro de Zemaria Pinto não comete esses erros, pois escreveu ele que “a poesia de Augusto dos Anjos encontra o seu Zeitgeist, o espírito dionisíaco de seu tempo, em uma expressão inédita na literatura brasileira, que desnorteou, por muito tempo, sua recepção crítica” – diz ele.

“Poeta – continua – desde a adolescência, seus poemas mais antigos, dos dezesseis anos, já trazem a marca de um eu lírico melancólico, marcado pela solidão e pela reflexão sobre o estar-no-mundo” .

“No ‘Monólogo de uma sombra’, poema que abre o Eu, após zombar das ciências e bradar contra a permissividade, uma espécie de deus-verme, vaticina que somente a Arte pode redimir a Humanidade. Em ‘Os doentes’, uma alegoria da degradação, a ideia de que a Arte é a única saída para a Humanidade retorna, e o poema termina de forma otimista, ‘o começo magnífico de um sonho’, ‘a gestação daquele grande feto, / que vinha substituir a Espécie Humana!’ (p. 249). Para Schopenhauer, a arte é a única razão para que o sofrimento seja suportável, ainda que seja representação do sofrimento”.

“A sua dor é a dor universal. Manifestando-a, ele denuncia a corrupção a que está submetida a humanidade. Essa é a sua alegria” – escreveu Zemaria Pinto.



Obs: publicado originalmente no blog de Rogel Samuel.