Rogel Samuel
Seis meses depois de recebê-lo, concluo a leitura
do excelente livro de Zemaria Pinto: A
invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos (2012).
Como já se disse, somente agora me permitiram os
trabalhos e os dias de fazê-lo.
Trata-se de um dos melhores estudos – dos mais
completos – do poeta paraibano.
Mas é claro que trata de uma obra poética
amplamente estudada, e o livro de Zemaria Pinto correu conscientemente o risco
de investigar uma obra muito estudada, e não citar os textos conhecidos como o
de Lúcia Helena em “A Cosmo-Agonia de Augusto dos Anjos”, além de Lúcia Sá etc.
Vou concentrar-me no budismo que aparece no poeta
Augusto dos Anjos.
A noção de Budismo que existe na obra de Augusto é
algo pessoal e mesmo “interpretada”, como de outros autores de sua época.
Os poetas não enfrentam nem poderiam enfrentar a
complexidade budista.
Eu diria que o budismo passa a ser uma figura
poética, retórica.
O budismo aponta para a “felicidade”, é o caminho
da felicidade, da alegria. E vacuidade não é aniquilação.
O que o budismo tenta aniquilar é justamente a
noção de “eu”, tão forte presença em todos nós.
Mas aniquilar o “eu” é dissolver os nossos
problemas, e não o contrário.
O budismo é visto pelos poetas da época com o
estigma da dor.
Não é assim nas diversas escolas de budismo.
Ninguém é mais feliz do que um grande monge
budista.
O que o Buda viu foi o caminho que leva à
felicidade, ao nirvana, que é bom no começo, no meio e no fim.
Mas o livro de Zemaria Pinto não comete esses
erros, pois escreveu ele que “a poesia de Augusto dos Anjos encontra o seu Zeitgeist,
o espírito dionisíaco de seu tempo, em uma expressão inédita na literatura
brasileira, que desnorteou, por muito tempo, sua recepção crítica” – diz ele.
“Poeta – continua – desde a adolescência, seus
poemas mais antigos, dos dezesseis anos, já trazem a marca de um eu lírico
melancólico, marcado pela solidão e pela reflexão sobre o estar-no-mundo” .
“No ‘Monólogo de uma sombra’, poema que abre o Eu,
após zombar das ciências e bradar contra a permissividade, uma espécie de
deus-verme, vaticina que somente a Arte pode redimir a Humanidade. Em ‘Os
doentes’, uma alegoria da degradação, a ideia de que a Arte é a única saída
para a Humanidade retorna, e o poema termina de forma otimista, ‘o começo
magnífico de um sonho’, ‘a gestação daquele grande feto, / que vinha substituir
a Espécie Humana!’ (p. 249). Para Schopenhauer, a arte é a única razão para que
o sofrimento seja suportável, ainda que seja representação do sofrimento”.
“A sua dor é a dor universal. Manifestando-a, ele
denuncia a corrupção a que está submetida a humanidade. Essa é a sua alegria” –
escreveu Zemaria Pinto.
Obs: publicado originalmente no blog de Rogel Samuel.