Vinicius, por Baptistão. |
Poética (I)
De manhã
escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a
morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros
que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço
amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Nova
York, 1950
Vinicius, por Max Zimer. |
Poética (II)
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo
(Um templo sem Deus)
Mas é grande e clara
pertence ao seu tempo
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo
(Um templo sem Deus)
Mas é grande e clara
pertence ao seu tempo
–
Entrai, irmãos meus!
Rio,
1960
Esta postagem é dedicada a todos aqueles – jovens, balzacos e velhos – que se esforçam em parecer poetas, e fazem da poesia mero trampolim social.
Sejam humildes, leiam o quanto seus eventos pseudopoéticos o permitam, e aprendam com quem sabe.
Vininha, por exemplo.