Amigos do Fingidor

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Platônica XIII



Tainá Vieira

 

E lá se foram 13 meses da tua partida, mais de um ano e eu continuo a te perturbar, mas tu sabes que ainda há muita coisa para falarmos, são tantas as minhas perguntas e inquietações, e, como te escolhi, não ficarás livre de mim tão cedo, Luiz. Outro dia, na ocasião da tua homenagem, que por sinal tu gostaste muito, me disseste isso naquela noite, eu encontrei o Thiago de Mello, e quando o vi, os momentos em que vi vocês juntos como irmãos renasceram em minha memória, trazendo-me lembranças dos teus últimos dia na terra, não queria falar sobre isso, pois sei que tu não gostas. Entretanto, eu preciso falar sobre algo que só eu sei e só eu vi, e agradeço aos deuses por ter vivido isso também. Tu, ali naquele leito, eu ia sempre pela manhã te fazer companhia e todo dia o Thiago aparecia, te levava guloseimas, frutas e o amor de irmão que ele sentia por ti. Isso eu vi. Lembro-me que quando tu estavas deprimido, ele fazia de um tudo para te alegrar, uma vez ele declamou em espanhol um poema belíssimo (não lembro o titulo do poema agora) do Federico Garcia Lorca, e eu pude ver os teus olhos brilhando de contentamento. E noutro dia, ele te cantou uma canção, um samba, e tu cantaste com ele, e todas as pessoas que estavam próximas a nós naquele leito ficavam admiradas de ver vocês felizes, mesmo estando ali. Vocês foram felizes, sim, não importa se foi naquele lugar, não importa se foi por pouco tempo, o importante foi que vocês estavam tão próximos e tão unidos, como se nunca tivessem se separados. Eu ficava a imaginar vocês meninos, lembrei-me de uma passagem da infância de vocês: certa noite tu dormias na casa do Thiago, suas redes eram bem próximas uma da outra, para vocês poderem ficar conversando até pegar no sono e sempre um acordava o outro para lhe dar noticia de um pensamento novo, que surgia em meio ao sono, e assim foram várias noites. Vocês meninos deviam ser felizes, cheios de ideias e sonhos. Não sei e nem gostaria de saber o que houve com vocês para haver certo ressentimento de tua parte para com o teu irmão, não me interessa saber disso, prefiro ficar com as lembranças daqueles momentos que eu presenciei, mesmo que eles tenham sido vividos num leito de hospital... Prefiro ficar com a lembrança do Thiago fazendo a tua barba e tu sorrindo feliz... E tu partiste e ele ficou, e um dia ele também partirá e novamente vocês serão dois meninos irmãos como na infância, dois gênios que valeu a pena ter conhecido. E eu continuarei aqui, te lembrando e te cultuando como meu ídolo favorito, meu espelho que jamais se quebrará.