Amigos do Fingidor

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Lábios que beijei 5


Zemaria Pinto
Vivi

A imagem de Vivi que se colou na memória das minhas retinas é de uma mulher em formação, pernas e ombros sempre nus, mãos graciosas como colibris, os olhos ligeiramente estrábicos, o que lhe dava um ar de estar sempre nas nuvens, e um cheiro forte de suor – que muito tempo depois descobri que era o mesmo cheiro da maresia. Como Vivi, morando em plena floresta amazônica, cheirava a mar, isso eu nunca soube. Nos encontrávamos sempre no calor das tardes de verão, quando o seu cheiro de sal se tornava mais intenso. Passava a língua suavemente pelo seu pescoço e, aos poucos, descia até os pequeninos seios rijos, mas logo retornava ao ponto de origem, onde o gosto e o cheiro eram mais fortes. Vivi tinha os cabelos crespos castanhos e a pele dourada, como o céu do sol se pondo sobre o rio. Não faz muito, encontrei Vivi numa calçada da Eduardo Ribeiro. Ela me olhou com firmeza, eu me esquivei. A visão era medonha. Achei que ela me reconheceu, mas não. Apenas balbuciou, quase com doçura, algo como “senhor, dá um trocado pro almoço?”.