Zemaria Pinto
1. Concluindo
A relação
de Márcio Souza com o teatro está longe
de se esgotar , mas
já faz parte
da história : uma história
sem textos
herméticos ou representações
idem ; sem
textos engavetados, pasto
de traças insensíveis ;
sem apelos
de facilitação ao gosto mediano do distinto
público . O que
contamos como uma saga
de sucesso , na verdade
tropeçou em muita
incompreensão e censura .
Se hoje Márcio Souza é (quase ) uma unanimidade, não
é porque mudou o dramaturgo ;
mudou, sim , o público ,
que, naturalmente, aguçou sua percepção , embora
sua referência dramatúrgica ordinária ainda sejam as novelas
de televisão, os abjetos reality shows e,
novidade (!), as abomináveis comédias stand
up.
Márcio Souza inscreve-se
hoje entre os grandes
dramaturgos deste país ,
ainda que
sob o risco
de ser tachado de “regionalista” por uma crítica
cosmopolitamente provinciana. O dramaturgo Márcio Souza é universal
na medida em
que suas
peças refletem a intricada relação entre o
homem contemporâneo ,
com suas
práticas e hábitos
sociais e mentais ,
e as perspectivas históricas mais diversificadas – do tempo
mítico à temporalidade mais banal ; da leitura dos jornais de hoje, por exemplo . A
província e a floresta de Márcio Souza são tão universais quanto as províncias
de Balzac e de Gogol e os sertões de Graciliano Ramos e de Guimarães Rosa, no
que esses autores transcendem a mera geografia para se inserir como
repositórios das mais recônditas experiências humanas.
Este é o resumo
de uma obra em
construção. Uma obra que se pauta pela aguda participação nas questões
cotidianas, sem descuidar do apuro estético – esse amálgama que dá longa vida à
obra de arte. Os deuses, os heróis e os bufões de Márcio Souza contam parte de
nossa história – e ainda a contarão por muito tempo.
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