Amigos do Fingidor

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Do comunismo à droga e, finalmente, o verde como nova ordem social



João Bosco Botelho

 

         Não é necessário ser esperto para concluir que os trezentos bilhões de dólares movimentados anualmente pelo narcotráfico não podem ter sido estruturados da noite para o dia.

         A produção de heroína no Paquistão, em 1986, em torno de 140 toneladas, superou largamente as 40 toneladas de 1984. O preço de algumas drogas chega a rivalizar com o do ouro.  O volume de dinheiro gerado pelo narcotráfico não fica restrito às economias dos países emergentes. A venda de co­caína, em Miami, nos EUA, envolve uma fortuna próxima do faturamento da Philip Morris, um dos maiores produtores de cigarro do mundo.

         As drogas como a maconha, a cocaína e a heroína constituem problema fundamental das autoridades sanitárias, de maneira semelhante ao álcool e ao cigarro. O controle pretendido pelas autoridades policiais fica difícil porque existem particu­laridades específicas do uso e da comercialização de cada uma delas, ao mudarem continuamente com a aquisição de novas alternativas advin­das dos lucros astronômicos.

         A Corporação Rand, da Califórnia, apresentou relatório ao governo americano, em abril de 1990, evidenciando que apesar do esforço administrativo, não houve mudança significativa entre a população que consumia cocaína e heroína.  

         Enquanto o combate ao traficante é obrigação do Estado moderno por meio do organismo policial, o ato noticioso da complexa malha social está inserido no trabalho da imprensa. Entretanto, é necessário unir as forças com os profissionais de saúde para conter o enfoque demoníaco, frequentemente, ligado aos dependentes. Os usuários devem ser entendidos como pessoas que necessitam de cuidados médicos com o objetivo de romper a dependência química.

         Na atualidade, o mundo está tendo a rara oportunidade de presenciar o movi­mento da coesão social para manter a posse do território. O mal, antes simbolizado pelo comunismo, foi dicotomizado: o maléfico, a droga; o benéfico, o verde.

         O rápido processo de busca do elo aglutinador, do comunismo à droga, foi precocemente percebido, em 1989, pelo ditador Fidel Castro. A capi­tal Havana foi coberta de amplos cartazes contendo a bandeira nacional e os dizeres “sabremos lavar ejemplarmente esse ultraje”, contra os oficiais do exército envolvidos com o tráfico de drogas, sumariamente julgados em tribunal militar, condenados à morte e fuzilados.

          Depois que o comunismo deixou de representar perigo aos valores capitalistas, rapidamente, se identificou o novo inimigo comum – a droga – e o mais forte aliado – o verde. Ao mesmo tempo, em série de declarações sincronizadas, as principais autoridades mundiais deslocaram a atenção para os riscos ecológicos da industrialização. A integridade do verde planetário foi embutida no ideário capitalista.

         A mídia azeitada para readaptar o pensamento coletivo ao politicamente correto é extraordinariamente competente! O jornalismo científico e a arte, sensíveis às mudanças, estão enga­jadas na nova ordem estética. O verde deslocou as ligações incômodas, associadas aos exces­sos do capitalismo, sem mudar absolutamente nada na essência ideológica.

         Os países emergentes, débeis nas respostas frente às dominações, curvaram-se ante a pressão e aderiram, sem esforço, à nova ordem mundial: a droga substituindo o comunismo e o verde como nova ordem de coesão social.