Tainá Vieira
"Tome, Dr., esta
tesoura, e.. corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!"
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!"
Ah,
Augusto dos Anjos, perdoe-me! Mas estes versos foram feitos para mim.
Como não tenho coragem, estou a ponto de pedir que cortem minha carne, antes
que ela se decomponha e cause danos ao ar. Não desejo ver morrendo aos poucos a
minha "singularíssima pessoa". Encontro-me num estado lamentável da
vida. Meu organismo já não reage a nenhuma substância. É triste acompanhar o
nosso próprio fim.
A
vida é cheia de surpresas mesmo, há quem queira a felicidade para toda vida
e até conseguem e existem outros que só a querem apenas por um instante e
jamais conseguem, é o meu caso. Há muito que estou em busca da tão sonhada
felicidade e esta sempre escapa pelos meus dedos. Não consigo entender, é
difícil demais para entender, eu me sinto um ser estranho no mundo, um ser anormal, parece
que certas coisas só acontecem comigo, eu fico achando que tudo sempre
está contra mim, tudo em mim chora, sofre e dói. Eu já clamei aos deuses, já
pedi que intercedessem por mim, mas não obtive nenhuma resposta, acho que
eles nem ouviram o meu clamor. Não sei mesmo o que há comigo. Estou sempre sem respostas, estou
sempre em dúvida, estou sempre com o coração ferido.
Eu
que detestava remédios, agora sou hipocondríaco, cada parte do meu corpo exige
um tipo de remédio, cada célula em mim depende de uma substância química. Alguém
que não me conhece e tente conversar comigo, de certo assustar-se-á quando eu
começar a falar... falar sobre doenças, sobre os meus males. E o pior é que eu
não sou um corpo velho numa alma nova e nem uma alma velha num corpo novo. Eu
nasci com defeitos! E os defeitos são tantos que não há como saber a minha
idade!