Amigos do Fingidor

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Saudações



Letícia Cardoso

 

Compras. Ninguém sabe o que isso pode nos trazer até o momento em que nós temos que sair de casa para fazê-las. Pode acontecer que numa dessas idas ao supermercado, você tenha uma crise de timidez. E não digo isso pelo seu possível travamento diante da caixa, que não respondeu à sua saudação, ou então por aqueles 5 minutos que você perde tentando chamar o senhor que trabalha no açougue (e a força que faz para se manter firme em sua missão e não aceitar a primeira carne que ele lhe oferece). Não. Nesse tipo de atividade social, e por que não de sobrevivência, há grandes chances de você encontrar alguém conhecido, surgindo então aquela inquietação sobre como agir diante dessa situação. Pois, para o tímido, acontecimentos desse tipo significam que muita coisa pode dar errada (para ele) como frustações (consigo) e lágrimas por causa de sua (incontrolável) introspecção.

Sabe aquela sensação que dá quando você sente que algo saiu do eixo? Realmente, eu não sei lidar com esse tipo de situação. Você pode estar pensando que eu estou fazendo uma tempestade no copo d’água. Está bem, confesso que é mais ou menos isso que você pensa, meu caro leitor. Mas, se posso ser honesta, detesto quando encontro pessoas fora do ambiente que deveria encontrá-las. Entendeu? Deixe-me explicar melhor.

Estava no supermercado outro dia quando me dei conta que tinha passado os últimos quinze minutos tentando escolher qual marca de extrato de tomate compraria. Bem, isso foi nos cinco minutos iniciais. Nos outros dez minutos eu me dediquei no árduo trabalho de descobrir o porquê de um elefante ser o símbolo de uma marca de extrato de tomate. Elefantes gostam de tomate? Até então eu só imaginava que eles gostassem de amendoins e tivessem pavor de ratos. Ok, perdemos o foco, mas em que momento da minha longa vida como leitora de gibis do Maurício de Sousa eu perdi o Jotalhão dizendo que gosta de tomates?

Por mim, não há problemas, uma vez que amo massas com bastante molho. Se eu soubesse que ele gostava disso também, talvez ele tivesse sido uma espécie de herói para mim. E aí então eu não ficaria com vergonha alheia por todas às vezes que a Rita Najura tentou conquistá-lo. Sério, gente, uma formiga e um elefante? Como? Percebam que mudei de foco outra vez. Se eu estivesse concentrada na minha missão de fazer compras naquela manhã teria percebido as pessoas que andavam em minha direção. Oh, não! Gente conhecida (sorrindo para você) com pessoas não conhecidas a menos de 5m agora: fuja, tímido, fuja!

Que fique claro desde agora: não são as pessoas que encontro que me fazem desconfortáveis. Não, geralmente não. É o embaraço da situação. Estou dando muitas voltas para explicar? Serei objetiva, então. É que eu nunca sei o modo como tenho que me comportar!

Você me diz agora: Letícia, aja com naturalidade. Você conhece a pessoa e ela está vindo te cumprimentar, qual o problema? A minha grande agitação é: primeiro, não saber como saudar a pessoa: Talvez um “Olá”, pode parecer forçado; um “Oi” pode sair como: “detestei te ver por aqui”; Quem sabe um “Alô”?. Cara, ninguém deve fazer essa saudação desde o fim da década de 50! Segundo, eu não sei se devo abraçar, estender a mão, pior: os beijos! São dois ou apenas um? E por qual lado começa? Eu vou para direita ou para esquerda? E se a pessoa for para o mesmo lado que eu? Jesus, quanta vergonha! Terceiro: se ainda houver crianças e outras pessoas acompanhando o conhecido, o que fazer? Saudá-los com um aceno e beijar a criança? Ou saudar a criança com um sorriso (que, acredite, será incrivelmente assustador devido ao seu estado de espírito-pré-infarto-a-qualquer-momento). Droga! Têm crianças que adoram ser esnobes ou ainda fazer cara de Pit Bull, e mesmo sabendo que são apenas Chihuahuas, você sente medo e desconforto com elas.

É por causa de situações como essas que pessoas como eu são tachadas de antissociais. Mas na verdade não são. Nós somos pessoas boas, acreditem. Nosso único problema é a ansiedade e o nervosismo que nos assolam durante esses momentos sociais. Nós tímidos temos medo de parecer ridículos aos olhos dos outros. É muito fácil nos desestabilizar. Basta um comentário dúbio a respeito, por exemplo, da nossa aparente falta de iniciativa para conversar. Coisas do tipo: “O gato comeu sua língua”, machucam. Você já pensou se um gato realmente tivesse comido? E por que diabos, gatos comeriam línguas? Esse é mais uma daquelas coisas insensatas tais como elefantes que gostam de tomates!

Quando o casal se aproximou de mim e soltou um melódico “Olá, Lelê! Que bom te ver!”, seguido de um abraço, eu até que relaxei, mas como a cara ainda não era das melhores, eles logo perguntaram se eu estava bem. Na verdade, na minha mente passava aquela velha guerra sobre maneiras de saudar as pessoas, sobretudo, aquela vontadezinha de saber como abraçar alguém sem travar durante o processo. Mas essa história eu deixo para próxima.