Tainá Vieira
Eu queria escrever um tratado, uma teoria seria mais difícil.
Gostaria de dissertar sobre algo que me deixasse contente. Contente, eis aí o
problema, no meu vocabulário não há espaço para as palavras contente e alegre.
Contente é aquele que teve um desejo
realizado e alegre é aquele que tem,
sente e manifesta alegria. E eu não me encaixo em nenhuma dessas, pois tudo
na minha vida é cinza, o céu é cinza, o mar é cinza, as folhas das arvores são
cinza, até meu sangue é cinza. Tudo é cinza. Tudo ao meu redor é tão mórbido,
tudo está parado, calado, nada tem vida, e eu me sinto uma egoísta, pois estou
só num mundo vazio, morto. Esse é o meu mundo. Triste. Sem hipérbole, nasci no
dia da tristeza.
Talvez eu possa discorrer sobre isso, sobre a tristeza, tristeza
que é a falta de alegria, ou talvez seja melhor tratar sobre a melancolia, que
é algo mais profundo do que a tristeza. Melancolia é um estado mórbido, caracterizado pelo abatimento mental e físico,
estado de tristeza e desencantamento geral; depressão. Penso que jamais
tive um encantamento na vida, pois desde o dia em que me entendi como gente, a
tristeza me acompanha e se não for curada se agrava e se torna melancolia. E
foi o que me aconteceu. Começou com pequenas perdas, algumas rejeições e muitos
desencontros. Mais tarde, quando já
estava um tanto amadurecida e sonhava com a alegria, parecia que mais triste eu
ficava. A melancolia é a pior de todas as
enfermidades, ela chega aos poucos, vai contaminando lentamente, primeiro tira
os sonhos, depois o sono e a fome, acaba com suas forças, deixa o ser humano sem
vontade para nada, até para chorar ou se lamentar, e por ultimo, é a fase
terminal, deixa tudo cinza, tão cinza que quando o sol tenta se aproximar, seus
olhos doem, pois já estão acostumados com o dia cinzento. Isso é lastimável, é
dolorido demais, não deixem, leitores, que a melancolia chegue perto de vocês,
não queiram entrar num estado melancólico, pois este é um passo para morte, aliás,
esta que fica rondando o leito do paciente melancólico e coloca visões e vozes
na sua cabeça. A morte aparece em forma de anjo, um anjo tão lindo que sua
beleza confunde o paciente e é por isso que este se entrega totalmente a
ela. Engana-se quem pensa que a morte é
uma coisa horrorosa, não, ela é tão simpática e amiga, ela tira o paciente do
estado melancólico e o leva embora, prometendo-lhe um lugar melhor, feliz. Eu já vi a morte, já ouvi suas conversas e
quase dei a mão a ela, mas estava tão sem forças que preferi esperar mais um
pouco. E hoje a morte vive me rodando. Ela tornou-se meu guarda-costas. Mas
ainda bem que quando ela chega perto de mim deixa-me algumas ideias que passo
para o papel. Eu sou uma paciente melancólica que mesmo sem forças consigo
pensar um pouco. Talvez eu não me cure
dessa doença, mas fica aí o meu alerta.
Entrar num estado melancólico é quase por um fim na vida. Muitos
não conseguem escapar, conheço um ou dois que escaparam, foi muito difícil, não
sei como fizeram, no entanto, hoje dão seus depoimentos. E esses
ex-melancólicos vivem a dizer que mesmo tendo sido curados, às vezes, sentem-se
um pouco melancólicos, não com tanta intensidade, mas sentem-se. Eu, sinceramente,
se é para ficar sentindo recaídas, prefiro dar as mãos ao anjo da noite... Ah,
para melancolia não há remédio, desconheço algum, penso que nem caseiro
tem. Mas tenho um palpite para saber da
cura de um ou dois ex-melancólicos: devem ter feito um trato com a morte!