Zemaria Pinto
Nazaré
Nazaré trazia a noite
nos lábios fartos e na língua que voava livre pelo céu da minha boca – ave
encantada, enigma e magia. A menina de negros cabelos curtos, gestos bruscos e
cheiro de flores silvestres foi a primeira mulher a despertar em mim mais que
pensamentos idealizados: vontades sofreadas a custo, desejos de morrer e de
matar. Foram apenas alguns dias, mas tatuou-me a carne para sempre: Nazaré, que
tinha na pele a soma de todas as cores, plantou em mim a paixão da cor,
reproduzida em tantas mulheres que amei – como não tive tempo de amar
Nazaré.