Amigos do Fingidor

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Finado Beré



Pedro Lucas Lindoso


Uma das sepulturas que mais recebe visitas no dia dos finados é do Seu Beré. Não é santo nem faz milagres. Mas foi um dos homens mais queridos que já se conheceu em toda a Zona Leste de Manaus. Era um caboco suburucu, como diz Thiago de Mello.
Beré teve onze irmãos. Todos contribuíram muito para aumentar a população de Manaus e do Amazonas. O que não falta na vida de tio Beré são sobrinhos. E ainda há os amigos de seus filhos que o chamam de tio.
Quando alguém queria um conselho era só pedir para o Beré. Ele sempre dizia:
– Se conselho fosse bom a gente vendia, não dava. E logo ia dando sua opinião sobre o questionamento feito. Não opinava na área sentimental. Dizia logo:
– Procure um padre ou um pastor. Ou mãe de santo. Eu não opino nessa área. Também não sou curandeiro. Procure um médico que é melhor.
Os conselhos de Beré eram práticos. Um dos sobrinhos, desempregado, foi pedir ajuda. Ele o aconselhou a vender mingau. O rapaz tornou-se um dos mais prósperos mingauzeiros da cidade.
Outro, cheio de dívidas, veio lhe pedir dinheiro emprestado. Era um verão escaldante. Beré foi enfático;
– Rapaz, vai vender picolé que tu pagas tuas dívidas. Dito e feito.
Um outro tinha um terreno enorme. Valorizado. Uma construtora se interessou pelo imóvel. Em troca de dois apartamentos no Parque Dez. Consultado, tio Beré opinou:
– Eu não troco uma coisa que existe por outras duas que ainda não existem. O rapaz, um verdadeiro estúrdio, perdeu o terreno. A construtora faliu.
Os conselhos de Beré eram famosos. Se alguém não os seguisse, se dava mal.
Zé Macaxeira é motoboy com a prestação da moto atrasada. Sonhou com tio Beré.  Resolveu vender cerveja e refrigerante na porta do Cemitério no Dia de Finados. Com esse calor, se deu bem.  O lucro foi tão bom que colocou as duas prestações da moto em dia.
Salve tio Beré.