Amigos do Fingidor

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Maranhão Sobrinho, cem anos além-depois – 1/3


Zemaria Pinto


Maranhão Sobrinho viveu em uma época em que jornais e revistas publicavam poesia regular e naturalmente. Acreditava-se, talvez, que a poesia fosse necessária... Assim, quando Kissyan Castro falou-me de sua intenção de publicar os poemas inéditos em livros do ilustre filho de Barra do Corda tive a certeza de que a poesia brasileira só teria a ganhar. Esta edição deve ser apenas a primeira, porque certamente incompleta; não por falta de esforço do organizador, mas porque o trabalho de garimpagem é insano. Kissyan é jovem, tem muito tempo pela frente, para continuar o seu labor de resgate da obra desse poeta excepcional que é Maranhão Sobrinho.
Quando um trabalho dessa envergadura vem à luz, há sempre as patrulhas estéticas de plantão para questionar o óbvio. Vamos nos antecipar a elas. “Se o autor não publicou esses poemas em livro era porque não os achava dignos disso”. Um livro, mesmo de poemas líricos, como é o caso do nosso autor, caracteriza-se por uma unidade, um fio condutor. Na hora de selecionar a produção disponível, muita coisa ficará de fora, por não se encaixar na proposta do livro. “Ah, e esses poemas de circunstância? O autor não aprovaria a sua publicação”. Talvez não. Mas nós temos, e o Kissyan mais do que ninguém tem consciência disso, a responsabilidade histórica de fazer o resgate da obra dos grandes autores, mesmo da parte mais ínfima, menor mesmo, como uma forma de melhor conhecer os procedimentos do autor. Manuel Bandeira, por exemplo, fez isso em vida, com o delicioso Mafuá do Malungo, editado por João Cabral de Melo Neto, com introdução de Carlos Drummond de Andrade. Mais precioso que isso é impossível em língua portuguesa. Já sem argumentos, as patrulhas estéticas partem para a agressão: “esses poemas não estão no mesmo nível dos poemas publicados em livro”. Maranhão Sobrinho morreu aos 36 anos. Não teve tempo de organizar sua obra. Nem sabemos se, peregrino como era, tinha controle sobre essa obra dispersa em jornais e revistas de vários pontos do Brasil. Tivesse tido tempo e estivesse organizado, poderia ter trabalhado melhor seus poemas, muitos deles publicados sob a emoção imediata da escrita. Para trás, patrulhas, para trás!
O material que tenho em mãos é tão rico que gostaria de ter alguns meses, pelo menos, para cotejar com os três livros do autor, buscar semelhanças e afinidades, investigar a alma poética de Maranhão Sobrinho, brincar de inventar teorias e descobrir conexões inusitadas com poetas de além-antes e de aquém-depois. Mas tenho apenas alguns dias, pois a efeméride dos 100 anos se aproxima e é a data perfeita para dar um novo e simbólico alento à poesia do autor de Papeis velhos... roídos pela traça do símbolo. Então, vou procurar ler esses poemas como se fossem um livro inédito, o que não é inexato, investigando suas inter-relações e buscando situá-los historicamente no corpus da literatura brasileira.


Obs: apresentação do livro Poesia Esparsa, de Maranhão Sobrinho, organizado por Kissyan Castro, reunião de 105 poemas do autor maranhense, jamais publicados em livro. Edição alusiva ao centenário de morte do poeta, ocorrida em Manaus, no dia 25 de dezembro de 1915.  

Para saber mais sobre Maranhão Sobrinho, clique aqui.