Amigos do Fingidor

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Evolucionismo como escolha na medicina



João Bosco Botelho

A genialidade da teoria de Darwin, na época da publicação, desvinculada dos saberes da genética, embutia o pressuposto de as mudanças impostas ao corpo, ditadas pela adaptação ao meio e à sobrevivência dos seres, serem repassadas à descendência.
De certa forma, as idéias de Darwin fomentaram a leitura evolucionista de Jean Baptiste Lamarck. Esse notável botânico francês negou a imobilidade dos seres vivos e os organizou como numa escada rolante, das formas menores e mais simples às maiores e mais complexas. Também acreditou que a mudança dos corpos era regida pelas necessidades de cada ser vivente, por meio do uso e do desuso das funções orgânicas e dos sentidos natos e que essas transformações seriam herdadas pelas novas gerações.
Contrariamente ao pensamento corrente, Darwin não descreveu a teoria evolucionista. O maior mérito desse cientista foi enfatizar um modelo particular de seleção natural, para explicar a transformação das espécies. Esse modelo, dito seletivo, compreende certo período de tempo, durante o qual podem ocorrer variações morfológicas, produzidas aleatoriamente entre os seres vivos.
Ao contrário, o modelo de Lamarck tem dois componentes: o primeiro, voltado ao organismo em si mesmo, no qual todos os organismos vivos possuem a tendência de evoluir do menos para o mais complexo; o segundo, relacionado ao meio ambiente, no qual todos os seres vivos sofrem a influência da natureza circundante e graças a essa interação ocorre a diversidade das espécies.
O exemplo da girafa pode, perfeitamente, contribuir para diferenciar os dois modelos. 
No de Darwin, seletivo, em todos os animais podem ocorrer variações em todos os sentidos, sem interferência da natureza circundante. Assim, somente as girafas com o pescoço mais longo poderão alimentar-se de forma mais adequada e, consequentemente, se reproduzir;
No de Lamarck, pressupõe-se a relação entre a necessidade da sobrevivência-reprodução e a mudança da forma do corpo.
Para a biologia molecular, os seres vivos são constituídos por dois tipos principais de moléculas: os ácidos nucleicos (AND e ARN) e as proteínas. Cada proteína é elaborada a partir de um gene. Esse gene é, inicialmente, recopiado em ARN (transcriptação), para, em seguida, a partir da cópia, estruturar a síntese da proteína (tradução). Dessa forma, a biologia molecular está estruturada sob esse dogma fundamental que sustenta como sendo unidirecional na elaboração das proteínas, isto é, só o gene determina a síntese das proteínas e nunca o contrário. Contudo, é possível que esse mecanismo não esteja engessado e, contrariamente, possua certa plasticidade. 
Considerando a infinita complexidade dos seres vivos, é mais possível que a relação entre gene e proteína seja regida pela plasticidade e não imobilizada pelo determinismo genético; isto é, os humanos seriam produtos das relações entre a natureza circundante X os corpos X as moléculas.
É desnecessário repetir a resistência às novas idéias evolucionistas darwinianas, contudo a ruptura com o imobilismo do Gênese bíblico estava claramente iniciada. Darwin trouxe à baila as variáveis da seleção natural frente à capacidade de sobrevivência do animal, ligadas às fontes de alimentos, em ambiente específico, como o ponto fundamental das transformações biológicas. Na dependência da comida disponível, os mais adaptados ao meio viverão e os outros, menos aptos, serão eliminados pela seleção natural.