Amigos do Fingidor

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Lábios que beijei 54


Zemaria Pinto
Nana

Mais velha que eu – ela dizia mais experiente –, Nana apareceu no banco pedindo-me conselhos sobre aplicações financeiras. O marido pagava-lhe uma boa pensão, depois de anos de justas legais, e ela mantinha um bom emprego como professora universitária, em meio expediente, o que lhe sobrava tempo para atuar em projetos especiais de secretarias de educação. As crianças estavam na faculdade e ela, no ápice da beleza, esbanjava vitalidade e bom humor. Um comentário tolo meu quase põe uma barreira entre nós: disse que não achava certo o sujeito ter que pagar pensão para uma mulher independente e resolvida. Sem deixar de sorrir e destilando fina ironia, ela justificou-se: seu marido cresceu profissionalmente enquanto ela ficava em casa, cuidando das crias, procurando emprego quando já passara dos 30 e as duas meninas já se viravam sozinhas; aquilo era uma indenização pelo tempo perdido. Para me desculpar, convidei-a a um almoço. Não tenho tempo, mas aceito um happy hour, locução que à época entrava na moda. Nana era toda lúbrica. Com o físico de uma Vênus de Rubens, tinha um fôlego de atleta e explorava com sabedoria o seu corpo maduro e belo. Não tinha pressa para nada.


(Continua no blog Poesia na Alcova)