Zemaria Pinto
Nana
Mais
velha que eu – ela dizia mais experiente –, Nana apareceu no banco pedindo-me
conselhos sobre aplicações financeiras. O marido pagava-lhe uma boa pensão,
depois de anos de justas legais, e ela mantinha um bom emprego como professora
universitária, em meio expediente, o que lhe sobrava tempo para atuar em projetos
especiais de secretarias de educação. As crianças estavam na faculdade e ela,
no ápice da beleza, esbanjava vitalidade e bom humor. Um comentário tolo meu
quase põe uma barreira entre nós: disse que não achava certo o sujeito ter que
pagar pensão para uma mulher independente e resolvida. Sem deixar de sorrir e
destilando fina ironia, ela justificou-se: seu marido cresceu profissionalmente
enquanto ela ficava em casa, cuidando das crias, procurando emprego quando já
passara dos 30 e as duas meninas já se viravam sozinhas; aquilo era uma
indenização pelo tempo perdido. Para me desculpar, convidei-a a um almoço. Não
tenho tempo, mas aceito um happy hour, locução que à época entrava na moda.
Nana era toda lúbrica. Com o físico de uma Vênus de Rubens, tinha um fôlego de
atleta e explorava com sabedoria o seu corpo maduro e belo. Não tinha pressa
para nada.
(Continua no blog Poesia na Alcova)