Pedro Lucas Lindoso
Em alusão aos festejos e
comemorações do dia da Consciência Negra, desejo homenagear duas mulheres
negras que conheci menino, nos anos sessenta, aqui em Manaus. Mulheres que tinham a total estima e
admiração de nossa família. Pessoas as quais fui levado a demonstrar respeitoso
carinho e incondicional afeto.
Falo de Josephina
de Mello, destacada enfermeira Ana Nery, e de dona Wanda, famosa tacacazeira da
Vila Municipal.
Josephina era filha de funcionário
brasileiro da Manaus Harbour e de uma enfermeira obstetra nascida em
Barbados. Estudou no Colégio Estadual do Amazonas diplomando-se Professora
Normalista pelo Instituto de Educação do Amazonas. Samaritana Socorrista pela
Cruz Vermelha Brasileira de Manaus, durante a II Guerra. No ano de 1944,
ingressou na Escola de Enfermagem de São Paulo. Posição social e educação bilíngue
conferiam à Josephina posição de relevo entre as alunas Ana Nery.
Destacou-se durante sua formação
profissional no Hospital das Clínicas. Assistiu a aulas na Faculdade de
Medicina da USP. Participou do Primeiro Congresso Nacional de Enfermagem. Formada,
Josephina foi contratada pelo Serviço Especial de Saúde Pública. Recebeu
incentivos financeiros para estudar como bolsista na Universidade de Minnesota,
Estados Unidos, curso que concluiu em 1951.
Exerceu função de enfermeira
distrital em Santarém-PA. Trabalhou, no Acre e em Rondônia. De volta a Manaus, conquistou
o cargo honorífico de Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Manaus,
assumindo como pioneira em uma função destinada normalmente aos homens.
Em 1958 foi designada para o
cargo de Vice-Diretora da Escola de Enfermagem de Manaus. A primeira Diretora
foi Iraildes Alves. Ambas construíram a melhor Escola de Enfermagem do Brasil,
dirigida por muitos anos por Josephina.
Recebeu várias comendas,
destacando-se a de Ana Nery, de Enfermeira do ano etc. Em 1978 recebeu a
Medalha do Mérito Oswaldo Cruz, conferida pelo Presidente da República.
E dona Wanda?
Em sua simplicidade e bondade comandou a melhor banca de tacacá da Vila
Municipal, hoje Adrianópolis. Tinha uma escoliose grave, que nunca a esmoreceu
ou impediu de trabalhar e ser esteio da sua família. Venceu preconceitos com
seu sorriso irradiante.
A essas duas mulheres
negras altivas e de excepcional caráter, já falecidas, minhas homenagens. Elas foram as melhores em seus afazeres. As
mais perfeitas representantes de uma negritude valorosa e feminista.