Paulo Sérgio Medeiros
É surreal como o motorista
amazonense não faz uso da comunicação não-verbal enquanto dirige. Nem mesmo o
Fred Flintstone dirige assim. Essa frieza glacial dos motoristas nas nossas
ruas pode ser letal, tanto para eles mesmos como para os pedestres. Do que
adianta os carros virem equipados com pisca-pisca, pisca-alerta, triângulo e
retrovisores interno e externo, se os motoras não fazem uso deles? Sinalizar
que vai dobrar à esquerda ou à direita parece ser um ultraje à moral de tal
condutor. Quem vem atrás tem simplesmente que adivinhar pra que lado o cidadão
do carro à frente vai dobrar. E se é um taxista ou motorista de ônibus, o seu
poder de adivinhação tem de ser igual ou maior que o da própria mãe Diná.
Até sugiro que os próximos carros
a serem fabricados venham equipados com bola de cristal LED de última geração.
No trânsito de Manaus quase tudo
pode acontecer, só não espere que os motoristas sinalizem, se comuniquem,
avisem que destino tomarão – aí também já é querer demais, não é?
Agora, uma coisa não podemos
negar: o motorista amazonense é bom de buzina. Buzinar é com ele mesmo. A
buzina tem o poder de abrir sinais, de desengarrafar o trânsito, é como se
falássemos “abre-te Sésamo”, e tudo se resolve, até o calor alivia depois de uma
boa buzinada.
Só agora percebo a conotação sexual
que uma buzina tem, pois os motoristas adoram passar a mão, tocá-la, cutucar
com o dedo, até aposto que tem motorista por aí que passa mais a mão na buzina
do que na sua própria mulher.
Outra coisa em que eles são bons
é de comunicação verbal, ah, isso não podemos refutar. Discussões, bate-bocas e
xingamentos. Alguns gostam de chamar os outros de patriota, “sai da frente
filho da pátria!”, outros gostam de demonstrar o seu apreço por café, “anda
logo com essa borra!”, e é daí pra pior. Uma fluência que não melhora em nada no
andamento do trânsito, muito pelo contrário, só piora.
Então caro motorista, se vai
dobrar, sinalize, se o carro ficou no prego, seja qual for sua natureza,
comunique-se! Use o pisca-alerta e/ou triângulo. Faça mais uso da linguagem
não-verbal. Sinalizar não contrai HIV, não paga multa, não dói e ainda evita
acidentes.