Pedro Lucas Lindoso
Sou de um tempo em que não
se falava de Halloween nem de bruxas. Tampouco se acendiam velas em abóboras.
Jerimum era feito para se comer e só. Os filmes de Hollywood eram no “farwest”,
ou faroeste. Não havia esses horripilantes filmes de terror. As sextas-feiras 13
eram vistas com leve cautela para evitar-se algum azar, mas não eram sinônimos
de terror, fantasmas e assombrações.
Nos dias de hoje, a meninada
se aterroriza vendo esses enlatados de baixa categoria, com bruxas,
assombrações, exorcismos de araque e sustos fabricados com efeitos visuais. Esses
sim, muito bem elaborados e de técnica ultramoderna.
Tinha-se medo do bicho
folharal, do curupira e de uma tal de mulher de branco.
Do curupira não se tinha muito
medo porque ele só aparecia na floresta. Agora o bicho folharal se escondia no
fundo do quintal para proteger as plantas e as árvores, segundo me diziam. E eu
o temia, e muito. A mulher de branco
passeava pela calçada do cemitério que dá para o Boulevard, indo até a Praça
Chile. Era de arrepiar. Medos de meninos que não conheciam internet, nem jogos
eletrônicos ou filmes de terror.
Em Recife, terra de minha
mulher, temia-se o velho da venta quebrada e o “papa figo" que comia o
fígado de meninos.
Mas nessa temática de medo e
morte havia uma coisa aqui em Manaus que superava todas as produções
hollywoodianas. Mais aterrorizante que qualquer filme de Drácula, vampiro,
exorcista, sexta-feira 13, “walking dead”,
zumbi e outros do gênero.
Estou me referindo à TUMBA!
Assim a meninada se referia ao carro fúnebre. Geralmente estacionado em frente à
Santa Casa. A garagem do carro TUMBA era ao lado da Capela da Santa Casa. Em frente havia o Necrotério.
Quando morre alguém há
sempre uma carreata que segue o carro fúnebre (ou rabecão) até o cemitério. Hoje
há os clássicos Caravan, Omega
Suprema, a veterana Kombi, e outros adaptados. O caixão é colocado no
veículo onde é conduzido respeitosa e discretamente até a morada final.
Mas a TUMBA não. A TUMBA
metia medo. Era toda preta. Tinha uns enfeites dourados. Havia uns pingentes e
berloques que adornavam um majestoso, porém tenebroso, dossel também em dourado.
As cortinas eram roxas. O caixão era exposto. O defunto ia nesse horripilante
carro aberto, sem direito a ar-condicionado. E o medo?