Amigos do Fingidor

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Sem ar-condicionado


Pedro Lucas Lindoso

Sou de um tempo em que não se falava de Halloween nem de bruxas. Tampouco se acendiam velas em abóboras. Jerimum era feito para se comer e só. Os filmes de Hollywood eram no “farwest”, ou faroeste. Não havia esses horripilantes filmes de terror. As sextas-feiras 13 eram vistas com leve cautela para evitar-se algum azar, mas não eram sinônimos de terror, fantasmas e assombrações.
Nos dias de hoje, a meninada se aterroriza vendo esses enlatados de baixa categoria, com bruxas, assombrações, exorcismos de araque e sustos fabricados com efeitos visuais. Esses sim, muito bem elaborados e de técnica ultramoderna.
Tinha-se medo do bicho folharal, do curupira e de uma tal de mulher de branco.
Do curupira não se tinha muito medo porque ele só aparecia na floresta. Agora o bicho folharal se escondia no fundo do quintal para proteger as plantas e as árvores, segundo me diziam. E eu o temia, e muito.  A mulher de branco passeava pela calçada do cemitério que dá para o Boulevard, indo até a Praça Chile. Era de arrepiar. Medos de meninos que não conheciam internet, nem jogos eletrônicos ou filmes de terror.
Em Recife, terra de minha mulher, temia-se o velho da venta quebrada e o “papa figo" que comia o fígado de meninos.
Mas nessa temática de medo e morte havia uma coisa aqui em Manaus que superava todas as produções hollywoodianas. Mais aterrorizante que qualquer filme de Drácula, vampiro, exorcista, sexta-feira 13, “walking dead”, zumbi e outros do gênero.
Estou me referindo à TUMBA! Assim a meninada se referia ao carro fúnebre. Geralmente estacionado em frente à Santa Casa. A garagem do carro TUMBA era ao lado da Capela da Santa Casa.  Em frente havia o Necrotério.
Quando morre alguém há sempre uma carreata que segue o carro fúnebre (ou rabecão) até o cemitério. Hoje há os clássicos Caravan, Omega Suprema, a veterana Kombi, e outros adaptados. O caixão é colocado no veículo onde é conduzido respeitosa e discretamente até a morada final.
Mas a TUMBA não. A TUMBA metia medo. Era toda preta. Tinha uns enfeites dourados. Havia uns pingentes e berloques que adornavam um majestoso, porém tenebroso, dossel também em dourado. As cortinas eram roxas. O caixão era exposto. O defunto ia nesse horripilante carro aberto, sem direito a ar-condicionado. E o medo?