Amigos do Fingidor

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Foi um Chico que passou em minha vida...



Paulo Sérgio Medeiros

Nosso primeiro contato foi selado com um forte aperto de mãos, daqueles típicos de um cearense cabra macho. Confesso que me intimidei tanto com aquela saudação sisuda, que no estalar dos ossos quase ouvi um sonoro “O que tu queres com minha filha?”
Na verdade aquele forte encontro de palmas foi um forte encontro de almas e não uma intimidação como havia deduzido lá no jurássico ano de 1991. Chico Branco era uma pessoa de alma grande e logo percebi que por baixo daqueles cabelos pratas existia um coração de ouro. 
Ele gostava de prosear e a nossa prosa dominical era sempre muito agradável, ainda que ele estivesse em estado de felicidade etílica. A conversa fluía e o cara conversava absurdamente sobre tudo apesar do pouco tempo de estudos formais o que não o impediu de diplomar os sete filhos. A sabedoria estava impregnada em sua pele.
Os anos foram se passando e os filhos foram se casando. Vieram então os filhos dos filhos. Por que usei a expressão filhos dos filhos e não netos? Porque seu Chico tratava todos como verdadeiros filhos. Essa era outra grande qualidade dele, olhar para o próximo sem distinção de cor, credo e conta bancária, o que me causava até uma certa inveja branca. Porém, com o meu filho havia uma relação muito além de avô e neto. Uma relação admirável. Então, meus amigos, como diz o ditado popular “quem meu filho beija, minha boca adoça”. Se eu já gostava do velho, passei a admirá-lo ainda mais.
Recebi a notícia do seu falecimento no trânsito. Meu filho estava do meu lado e com a voz embargada sussurrei pra ele: Júnior, ele acabou de falecer. Afaguei sua cabeça e continuei: Perdeu o teu avô. Ele, num choro represado, falou: Perdi um amigo. Foi muito duro ouvir isso. E o coração ficou ainda mais dilacerado ao ouvir da Larissa, aos prantos, minha filha de nove anos, a seguinte frase: Não é fácil perder um avô. E pra mim... Pra mim era a perda de um segundo pai.
Bom, acho que isso que acabei de relatar sintetiza muito bem quem foi seu Chico. Ele pode muito bem agora, lá no Reino dos Céus, parafrasear o personagem de um filme e bater no peito e cravar: Missão dada é missão cumprida!
Fica aqui registrado no plano terrestre o seu legado de honestidade, generosidade, companheirismo e solidariedade. Dizem por aí que enquanto a pessoa permanece viva em nossos corações ela não morre. Sendo assim, ele continuará perenemente vivo em nossas vidas.
Foi um Chico que passou em minha vida...