Paulo Sérgio Medeiros
Nosso
primeiro contato foi selado com um forte aperto de mãos, daqueles típicos de um
cearense cabra macho. Confesso que me intimidei tanto com aquela saudação
sisuda, que no estalar dos ossos quase ouvi um sonoro “O que tu queres com
minha filha?”
Na
verdade aquele forte encontro de palmas foi um forte encontro de almas e não
uma intimidação como havia deduzido lá no jurássico ano de 1991. Chico Branco
era uma pessoa de alma grande e logo percebi que por baixo daqueles cabelos
pratas existia um coração de ouro.
Ele
gostava de prosear e a nossa prosa dominical era sempre muito agradável, ainda
que ele estivesse em estado de felicidade etílica. A conversa fluía e o cara
conversava absurdamente sobre tudo apesar do pouco tempo de estudos formais o
que não o impediu de diplomar os sete filhos. A sabedoria estava impregnada em
sua pele.
Os anos
foram se passando e os filhos foram se casando. Vieram então os filhos dos
filhos. Por que usei a expressão filhos dos filhos e não netos? Porque seu
Chico tratava todos como verdadeiros filhos. Essa era outra grande qualidade
dele, olhar para o próximo sem distinção de cor, credo e conta bancária, o que
me causava até uma certa inveja branca. Porém, com o meu filho havia uma
relação muito além de avô e neto. Uma relação admirável. Então, meus amigos,
como diz o ditado popular “quem meu filho beija, minha boca adoça”. Se eu já
gostava do velho, passei a admirá-lo ainda mais.
Recebi
a notícia do seu falecimento no trânsito. Meu filho estava do meu lado e com a
voz embargada sussurrei pra ele: Júnior, ele acabou de falecer. Afaguei sua
cabeça e continuei: Perdeu o teu avô. Ele, num choro represado, falou: Perdi um
amigo. Foi muito duro ouvir isso. E o coração ficou ainda mais dilacerado ao
ouvir da Larissa, aos prantos, minha filha de nove anos, a seguinte frase: Não
é fácil perder um avô. E pra mim... Pra mim era a perda de um segundo pai.
Bom,
acho que isso que acabei de relatar sintetiza muito bem quem foi seu Chico. Ele
pode muito bem agora, lá no Reino dos Céus, parafrasear o personagem de um
filme e bater no peito e cravar: Missão dada é missão cumprida!
Fica
aqui registrado no plano terrestre o seu legado de honestidade, generosidade,
companheirismo e solidariedade. Dizem por aí que enquanto a pessoa permanece
viva em nossos corações ela não morre. Sendo assim, ele continuará perenemente
vivo em nossas vidas.
Foi um
Chico que passou em minha vida...