Zemaria Pinto
Em 1918, Nunes Pereira,
aos 24 anos, torna-se o fundador da cadeira de número 23 da Sociedade
Amazonense de Homens de Letras, precursora da Academia Amazonense de Letras.
Por uma dessas coincidências do destino, a cadeira 23, do poeta Cruz e Sousa, que
já fora ocupada pelo amigo Alencar e Silva, é hoje ocupada pelo amigo Júlio
Antônio Lopes.
No ano anterior, em
março, dera-se a fundação do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Apesar
de várias informações desencontradas, Nunes Pereira jamais foi associado ao IGHA,
uma lacuna que se corrige hoje, vinculando definitivamente o nome do grande
cientista e escritor à centenária Casa de Bernardo Ramos.
Voltando a 1918, ele casa-se
com Maria Rodrigues Ribeiro, filha do coronel José Alexandre Ribeiro, de
Parintins. Nesse meio tempo, o funcionário público Nunes Pereira, que por
formação era técnico em Veterinária, foi incumbido pelo governador Pedro de
Alcântara Bacelar de uma missão que poderia ser o estopim de seu interesse pela
causa indígena:
Percorrer
os campos naturais do Amazonas e do Território do Rio Branco para fazer um
extenso relatório sobre o potencial pastoril dessas regiões, convivendo entre
os Macuxi, os Arecuna, os Taulipangue e os Ingarikó.
Leitor ávido e voraz,
Nunes Pereira formou cinco bibliotecas ao longo da vida. Poliglota, dominava o
francês, o inglês, o italiano, o alemão e o espanhol, além do nheengatu. Vale
ressaltar uma característica recorrente na sua obra: a absoluta transparência
intelectual. Além da bibliografia convencional, ele, no próprio texto, explica
detalhadamente como chegou a cada informação ou conclusão – desde as leituras
que lhe serviram de base até as mais triviais conversas com seus guias e
narradores. Também não poupa citações e referências, especialmente as de cunho
literário. Sua fama de boêmio é incompatível com sua disciplina de leitor e de
escritor.
Admirador de São
Francisco de Assis, Nunes declara-se crente em um Deus “um pouco indígena, um
pouco católico”, ressaltando sua condição de maçom. Do seu Arquivo nos anais da
Biblioteca Nacional consta um Passaporte emitido pela Grande Loja do Estado do
Pará, em outubro de 1954, atestando sua filiação ativa à Loja Maçônica
Renascença, de Belém.
Em 1944, juntamente com
Geraldo Pinheiro, André Araújo e Mário Ypiranga Monteiro, Nunes Pereira funda o
Instituto de Etnologia e Sociologia do Amazonas – do qual foi o primeiro e
parece que único presidente. Nos referidos anais, há vários documentos dando
conta das atividades do Instituto, inclusive do lendário caso envolvendo os
despojos de Koch-Grünberg.
Em outubro de 1973,
recebe o título de cidadão de Manaus, concedido pela Câmara Municipal,
proposição do vereador Fábio Lucena.
Em entrevista, aos 83
anos, confessou duas frustrações: “não saber música, e não saber desenho”.
Num dia como hoje, 26
de fevereiro, mas de 1985, há exatos 31 anos, falecia, no Rio de Janeiro, Manoel
Nunes Pereira – cientista, poeta e contador de estórias.