Amigos do Fingidor

quinta-feira, 10 de março de 2016

Limites da cura nas menores estruturas da matéria


João Bosco Botelho

Os seres vivos, dos unicelulares ao homem, manifestam-se na natureza em torno da complexa dispersão da multiplicidade das formas e das funções biológicas visíveis e invisíveis. É nessa maravilhosa identificação dos múltiplos, porém únicos, que se torna possível aos sentidos humanos, tanto nos inatos quanto nos adquiridos, que é possível apreender a partir da comparação e, a seguir, reproduzir, modificar e interpretar o observável.
Nesse conhecimento historicamente acumulado – a repetição ou a repulsa do visível e do sentido – a espécie se tornou Sapiens. A explosão da inteligência humana deu-se na construção de idéias para desvendar o ainda invisível, a partir do processo cumulativo dos saberes.
Se tomarmos como exemplo um grupo de pessoas adultas, ao longe o suficiente para vermos a forma – o corpo –, poderemos caracterizá-lo, sem esforço, como homens e mulheres. Contudo, conforme nós nos aproximamos, perceberemos que continuam homens e mulheres, porém diversos entre si em cada porção agora mais perceptível dos seus corpos.
Continuando o desvendar da matéria, a mesma e incrível variação continua nas dimensões microscópicas – a célula. Apesar de as células serem passíveis de reconhecimento como sendo originadas na tireóide, elas são distintas entre si. Com a atual tecnologia disponível é possível afirmar que essa extraordinária unicidade que molda o ser vivente, ocorre também no nível molecular.
O que torna mais fascinante o desafio de compreender os corpos humanos é o fato de as doenças também reproduzirem, nas dimensões macro e microscópicas, um conjunto infinitamente maior da multiplicidade das formas e das funções quando comparadas ao normal.
A perda do caráter individual dos seres vivos parece ocorrer no nível atômico. Os corpos, órgãos, células e moléculas normais ou doentes mantêm a multiplicidade, porém os átomos que os compõem não teriam diferenças entre si.
Dessa forma, com o avanço do desvendar das estruturas, torna-se cada vez mais necessário entender as modificações dos tecidos visíveis, identificados como doenças resultantes de mudanças estruturais em todas as dimensões da matéria: células, moléculas, átomos e partículas subatômicas como entidades físicas plenamente relacionadas.
Esse é o ponto de encontro marcando os limites entre o mundo vivo e a natureza inerte! Por um lado, existe a coisa, não reproduzível em si só, composta de átomos organizados em moléculas sem vida e, pelo outro, o ser vivo podendo reproduzir-se, composto dos mesmos átomos organizando as moléculas, as células, os órgãos e os corpos.
Os elementos químicos da cadeia periódica são os mesmos para todas as coisas vivas e inanimadas do planeta. Isto quer dizer que a ciência admite as formas e as funções dos átomos de carbono, que compõem as moléculas do diamante, como sendo exatamente iguais às dos átomos de carbono formadores das moléculas das células do coração humano.
Neste momento, cabe a pergunta fundamental: em qual dimensão do ser vivente a forma determinante da doença substitui a estrutura preexistente para que o normal se transforme em doença? Ou ainda, de modo mais contundente e dramático: o normal e a doença existem ou são partes de outro conjunto ainda desconhecido da ciência?
O que torna tudo mais extraordinário é o fato concreto de que, mesmo sem saber em qual dimensão da matéria o normal se transforma em doença, existe um vigor extraordinário das ciências para lutar contra a dor e empurrar os limites da vida.