Amigos do Fingidor

quinta-feira, 10 de março de 2016

O rodado



Paulo Sérgio Medeiros

Quando meu amigo sacou a ideia de uma viagem em grupo, no cabo dela (me perdoem a cacofonia) já veio outra. Alugar um carro. No caso, dois. Éramos um grupo de onze pessoas. Por mim tal sugestão poderia tranquilamente ficar guardada na bainha de sua empolgação.
Mas viajar em grupo descarta-se qualquer possibilidade de decisão unilateral.  As decisões, não agradando a todos, devem no mínimo agradar a maioria. Ainda assim isso não evitará cara fechada, beicinho, momento osga (piada interna) e outras frescuras do homem moderno.
Humildemente engatei uma ré de minhas duas únicas objeções quanto ao aluguel dos carros. Objeção um: Não gosto de dirigir, nas férias então, isso ganha peso dois. Objeção dois: Dirigir por ruas desconhecidas em outra cidade cujo trânsito é tão maluco quanto o nosso não transitava pela minha cabeça.
Porém, decisão acatada. O dia da viagem chegou. Desembarcamos no Rio e a autoconfiança do meu amigo foi embrulhando minha insegurança à medida que ele contava suas aventuras pelas BRs afora.  O cara era rodado!
Primeiro destino. Laranjeiras. Isso aqui é moleza, saca só! Com o GPS em mãos o nosso percurso Galeão–Laranjeiras estava traçado. Agora, Paulinho, é só me seguir. Arreganhei um sorriso e desabafei cá com meus botões. Esse cara é rodado!
Ele na frente com o GPS e eu logo atrás como ele bem me recomendou. Coladinho na sua traseira. Meu outro amigo no banco do carona – o antônimo do rodado – fazia o papel do navegador-tranquilizador. Paulo, relaxa porque qualquer coisa a gente liga liga liga liga liga liga. Isso quando ele não estava resmungando: Pow, esse cara não é de grupo. Ele só dirige zimpado. Era um próprio personagem de HQ.
No entanto, eu não queria mesmo era perdê-lo de vista. Avancei sinal, ultrapassei pela esquerda, fiz retorno na contramão, fechei um taxista e não conseguíamos sair das proximidades do sambódromo, que por sinal me chamou a atenção pela sua apoteose. Gostei muito dos setores um e treze. Aliás, ficar dirigindo em torno do sambódromo me remeteu ao filme Férias frustradas. Olha a Torre Eiffel! Olha a Torre Eiffel! Olha a Torre Eiffel!
Mas como diz o ditado: quem tem boca tanto bate até que fura. O Rodado, após meio tanque desperdiçado, se rendeu ao carro amarelo no sinal vermelho e o taxista dando dois beijinhos no ombro e com apenas duas palavras nos levou ao nosso albergue. Siga-me! Caracas, ele sambou na nossa cara. Lacrou!
Uma vez que era só o primeiro dia, voltei a conversar cá com meus botões. Esse negócio de alugar carro não vai dar certo. Ó céus, ó vida.
O Rodado viria a se perder outras vezes, mas aí nada que pusesse nossos passeios em risco. Até porque era só eu acionar meu navegador-tranquilizador que o mesmo acionava sua esposa com o: liga liga liga liga liga liga liga.