Paulo Sérgio Medeiros
Quando meu amigo sacou
a ideia de uma viagem em grupo, no cabo dela (me perdoem a cacofonia) já veio
outra. Alugar um carro. No caso, dois. Éramos um grupo de onze pessoas. Por mim
tal sugestão poderia tranquilamente ficar guardada na bainha de sua empolgação.
Mas viajar em grupo descarta-se
qualquer possibilidade de decisão unilateral. As decisões, não agradando a todos, devem no
mínimo agradar a maioria. Ainda assim isso não evitará cara fechada, beicinho,
momento osga (piada interna) e outras frescuras do homem moderno.
Humildemente engatei
uma ré de minhas duas únicas objeções quanto ao aluguel dos carros. Objeção um:
Não gosto de dirigir, nas férias então, isso ganha peso dois. Objeção dois:
Dirigir por ruas desconhecidas em outra cidade cujo trânsito é tão maluco
quanto o nosso não transitava pela minha cabeça.
Porém, decisão acatada.
O dia da viagem chegou. Desembarcamos no Rio e a autoconfiança do meu amigo foi
embrulhando minha insegurança à medida que ele contava suas aventuras pelas BRs
afora. O cara era rodado!
Primeiro destino.
Laranjeiras. Isso aqui é moleza, saca só! Com o GPS em mãos o nosso percurso
Galeão–Laranjeiras estava traçado. Agora, Paulinho, é só me seguir. Arreganhei
um sorriso e desabafei cá com meus botões. Esse cara é rodado!
Ele na frente com o GPS
e eu logo atrás como ele bem me recomendou. Coladinho na sua traseira. Meu outro
amigo no banco do carona – o antônimo do rodado – fazia o papel do
navegador-tranquilizador. Paulo, relaxa porque qualquer coisa a gente liga liga
liga liga liga liga. Isso quando ele não estava resmungando: Pow, esse cara não
é de grupo. Ele só dirige zimpado. Era um próprio personagem de HQ.
No entanto, eu não
queria mesmo era perdê-lo de vista. Avancei sinal, ultrapassei pela esquerda,
fiz retorno na contramão, fechei um taxista e não conseguíamos sair das
proximidades do sambódromo, que por sinal me chamou a atenção pela sua
apoteose. Gostei muito dos setores um e treze. Aliás, ficar dirigindo em torno
do sambódromo me remeteu ao filme Férias
frustradas. Olha a Torre Eiffel! Olha a Torre Eiffel! Olha a Torre Eiffel!
Mas como diz o ditado:
quem tem boca tanto bate até que fura. O Rodado, após meio tanque desperdiçado,
se rendeu ao carro amarelo no sinal vermelho e o taxista dando dois beijinhos
no ombro e com apenas duas palavras nos levou ao nosso albergue. Siga-me!
Caracas, ele sambou na nossa cara. Lacrou!
Uma vez que era só o
primeiro dia, voltei a conversar cá com meus botões. Esse negócio de alugar
carro não vai dar certo. Ó céus, ó vida.
O Rodado viria a se
perder outras vezes, mas aí nada que pusesse nossos passeios em risco. Até
porque era só eu acionar meu navegador-tranquilizador que o mesmo acionava sua
esposa com o: liga liga liga liga liga liga liga.