Paulo
Sérgio Medeiros
Vem
que estou te esperando. Assim que Bruna desligou o celular
correu para tomar um banho, perfumou-se de sensualidade, vestiu um vestido azul
marinho sem alça e sem-vergonha e despiu-se da mulher politicamente correta. Aquele
encontro de bocas profanas dias atrás tinha mexido com as estruturas de sua
personalidade.
Não demorou muito e
Ícaro estava lá, na esquina do perigo com o ilícito, à espera daquela que
exercia sobre ele um poder de fascinação inefável. Com os olhos pregados no
retrovisor do carro não via a hora de ver Bruna surgir esplêndida com seus
meneios lânguidos e convidativos a uma viagem ao lugar mais recôndito dos
prazeres.
Após longos cinco
minutos ela dobra a esquina e surge no espelho do retrovisor interno exalando de
longe seu perfume de sensualidade. Ícaro se delicia ao vê-la, mas rapidamente
se desespera, ela saiu do seu ângulo de visão, ele mais do que depressa a
procura no retrovisor externo do lado direito do carro, e seus olhos voltam a
sorrir com a boca. Lá vem ela voluptuosa ajeitando o vestido azul marinho.
Vamos,
mas não vai acontecer nada. Adverte Bruna ao entrar
no carro com um olhar que a desmentia. Ícaro ri cinicamente e a recebe com um
beijo no canto direito dos lábios sutilmente maquiados.
Aquela tarde, brindada
com um céu desprovido de nuvens, testemunha aquele encontro clandestino calorosamente
como que bronzeando as peripécias de uma amizade colorida. O conversa dos
corpos flui ao som de Nirvana. Entre uma marcha e outra a mão escapole e flutua
pelas coxas de Bruna que banha o beiço com a língua em movimentos circulares e
hipnóticos.
Ícaro tem pouco mais de
uma hora e meia para comer a maçã e engolir o sétimo dos mandamentos. Ele ainda
dirige a esmo quando Bruna enfim sugere o Haiti, o paraíso do amor. Lá
estaremos mais seguros.
– Como assim mais seguros
no Haiti? Questiona Ícaro em tom jocoso.
– Vamos fazer aquele
lugar tremer. Responde Bruna com todo seu humor negro.
Eles chegam ao paraíso
do amor e encontram uma fila de três carros, era uma quinta-feira com cara de
dia dos namorados. Um Logus rebaixado entra logo depois deles. Agora são cinco
carros e talvez dez pessoas a espera da chave para o vilão prazer da carne em
segundos tornar-se vítima.
Ícaro, já com o peito nu e só de bermuda, vai
espalhando calidamente suas digitais pela sinuosidade daquele Amazonas de
pecado. Com uma maçã na boca e outra na mão esquerda, Ícaro é castigado pelo
medo e flagranteado pelo arrependimento de Bruna que – como um vulcão em
erupção – implora para sair daquele corredor povoado da oficina do diabo. O
casamento de dois anos não merecia uma pista para pousos de aventuras extraconjugais.
Ícaro, o próprio trem
de pouso de tais aventuras, ainda tenta argumentar, todavia Bruna sai do carro
desesperada ajeitando o vestido azul marinho e mais desesperada fica quando
percebe a placa do Logus rebaixado: SEX 0769. Barrabás, seu filho da puta! Grita Bruna, exasperada. Ícaro desce
do carro para evitar o barraco e fica catatônico ao ver sua mulher no colo de Barrabás.
O Haiti tremeu...