Amigos do Fingidor

terça-feira, 29 de março de 2016

Podem me chamar de vovô


Pedro Lucas Lindoso

Talvez uma das coisas mais democráticas nos Estados Unidos seja o uso do pronome you. Usa-se you para o presidente, para cavalheiros e damas e para as crianças. Tanto no singular como no plural. Diferente do Brasil em que há o tu, vós, você, o senhor e a senhora.
Os gaúchos não usam você. Para alguns do Rio Grande soa ofensivo. Para outros é muito íntimo, é estranho. Usa-se sempre o tu. Em Porto Alegre o programa das manhãs na TV seria MAIS TU e não MAIS VOCÊ. Já no vizinho Santa Catarina, também no sul, o tu pode soar desrespeitoso.
Em alguns locais do Nordeste usa-se o senhor e a senhora até entre parentes próximos. Aqui em Manaus usa-se você e também o tu com frequência.
No país de Casa Grande e Senzala qualquer um que tenha curso superior é chamado de doutor. Principalmente médicos, engenheiros e advogados. Mas não só esses. Senhores ricos, “estribados”, como se diz no Ceará, são equivocadamente chamados de doutores. Alguns até exigem tal tratamento, sem merecer.
Conheço um bem sucedido lavador e “reparador” de carros da Praça da Polícia, aqui em Manaus. Chama todos os clientes de doutor e doutora. Para ele, teve carro é doutor. E se dá bem!
A vaidade é atributo presente em muitos brasileiros. Que o diga um porteiro de um prédio que foi interpelado judicialmente a usar o tratamento de doutor a determinado morador. Sois rei? Perguntaria jocosamente meu amigo Chaguinhas. Mas já não se usa o vós em português coloquial. Pelo menos no Brasil.
Por falar em reis e príncipes, um colega de trabalho que nasceu em Vassouras e mora em Petrópolis, no Rio de Janeiro, me disse que conhece membros da Família Real brasileira. Apesar de amigo de infância de um deles, só o trata de Sereníssimo Príncipe. Viva a República!
Outro dia, um sujeito aparentemente da minha idade, chamou-me de tio. Fiquei ofendido. Há crianças que são ensinadas a chamar as professoras de tias. Os amigos de meus filhos, que conhecemos crianças, nos chamam de tio e é respeitoso. Parece-me, que o tratamento “tio” e “tia” vai do carinho respeitoso ao deboche.

Mas estou cheio de contentamento com o nascimento de minha primeira neta, a Maria Luísa. Podem e devem me chamar de vovô, por favor.