Pedro Lucas Lindoso
Talvez uma das coisas mais
democráticas nos Estados Unidos seja o uso do pronome you. Usa-se you para o
presidente, para cavalheiros e damas e para as crianças. Tanto no singular como
no plural. Diferente do Brasil em que há o tu, vós, você, o senhor e a senhora.
Os gaúchos não usam você. Para
alguns do Rio Grande soa ofensivo. Para outros é muito íntimo, é estranho.
Usa-se sempre o tu. Em Porto Alegre o programa das manhãs na TV seria MAIS TU e
não MAIS VOCÊ. Já no vizinho Santa Catarina, também no sul, o tu pode soar
desrespeitoso.
Em alguns locais do Nordeste usa-se
o senhor e a senhora até entre parentes próximos. Aqui em Manaus usa-se você e
também o tu com frequência.
No país de Casa Grande e Senzala qualquer um que
tenha curso superior é chamado de doutor. Principalmente médicos, engenheiros e
advogados. Mas não só esses. Senhores ricos, “estribados”, como se diz no
Ceará, são equivocadamente chamados de doutores. Alguns até exigem tal
tratamento, sem merecer.
Conheço um bem sucedido
lavador e “reparador” de carros da Praça da Polícia, aqui em Manaus. Chama
todos os clientes de doutor e doutora. Para ele, teve carro é doutor. E se dá
bem!
A vaidade é atributo presente em
muitos brasileiros. Que o diga um porteiro de um prédio que foi interpelado judicialmente
a usar o tratamento de doutor a determinado morador. Sois rei? Perguntaria
jocosamente meu amigo Chaguinhas. Mas já não se usa o vós em português
coloquial. Pelo menos no Brasil.
Por falar em reis e príncipes,
um colega de trabalho que nasceu em Vassouras e mora em Petrópolis, no Rio de
Janeiro, me disse que conhece membros da Família Real brasileira. Apesar de
amigo de infância de um deles, só o trata de Sereníssimo Príncipe. Viva a
República!
Outro dia, um sujeito aparentemente
da minha idade, chamou-me de tio. Fiquei ofendido. Há crianças que são
ensinadas a chamar as professoras de tias. Os amigos de meus filhos, que
conhecemos crianças, nos chamam de tio e é respeitoso. Parece-me, que o
tratamento “tio” e “tia” vai do carinho respeitoso ao deboche.
Mas estou cheio de
contentamento com o nascimento de minha primeira neta, a Maria Luísa. Podem e
devem me chamar de vovô, por favor.