João Bosco Botelho
No pós-guerra dos anos cinquenta, quando
explodiram os saberes da genética, o mundo estava cansado dos horrores e das
matanças. Não era o tempo apropriado para discutir as influências atávicas nos
comportamentos. O discurso genético não era politicamente correto, após os
insuportáveis abusos do nazismo. Com justa razão, temia-se fomentar a ideia de
que bastaria reeducar alguns indivíduos para produzir, na geração seguinte, as
características pessoais e sociais desejáveis. Dessa forma, as cores dos olhos,
reconhecidamente genéticas, os comportamentos não teriam marca nos genes.
Os trabalhos do cientista Susumi Tenagawa
assinalaram novo alento para a compreensão dessa complexa simbiose entre os
corpos vivos e o meio. O autor demonstrou que as mudanças ocorridas nos
linfócitos T, em consequência de infecções bacterianas e parasitárias, são transmitidas à geração seguinte e
interferem no conjunto das respostas do sistema autoimune.
Essas pesquisas determinaram novas reconstruções
frente às incontáveis dúvidas do evolucionismo, impondo outros caminhos para
que pudéssemos pensar na forte interação sociogenética, expondo certos comportamentos
tão genéticos quanto as cores dos olhos. De acordo com as teorias Tenagawa,
ganhador do Nobel, é possível a transmissão aos descendentes imediatos das
novas adaptações moleculares envolvendo formas celulares transitórias como as dos
linfócitos T.
Não há por que duvidar da extensão dessa
fantástica capacidade biológica para o processo ancestral presente em todas as
espécies vivas, fundamental à sobrevivência: a recusa da dor e a busca do
prazer-recompensa.
Nessa condição, a linguagem profunda que trata
do prazer-recompensa e da dor concebida tanto no sagrado quanto no profano das
relações sociais mantém assombrosa coerência: a fuga da dor, em todo o planeta,
é imperativa!
A extraordinária adaptação dos humanos para
fugir da dor, ao longo da ontogenia, estabeleceu complexa malha, na micro e na
macro dimensão dos corpos, competente e duradoura, capaz de reger a base
genética que molda e impulsiona o processo biológico e cultural da humanidade: infinitas
ligações na forma (anatomia) e na função (fisiologia) dos corpos, marcadas na
genética, criando incontáveis padrões identificadores das ameaças de dor e
outros tantos que indicam os caminhos de fuga.
Pelo menos teoricamente, é possível pensar nos
comportamentos como sendo tão genéticos quanto as cores dos olhos.