Amigos do Fingidor

quinta-feira, 3 de março de 2016

Os comportamentos seriam genéticos como as cores dos olhos?



João Bosco Botelho

No pós-guerra dos anos cinquenta, quando explodiram os saberes da genética, o mundo estava cansado dos horrores e das matanças. Não era o tempo apropriado para discutir as influências atávicas nos comportamentos. O discurso genético não era politicamente correto, após os insuportáveis abusos do nazismo. Com justa razão, temia-se fomentar a ideia de que bastaria reeducar alguns indivíduos para produzir, na geração seguinte, as características pessoais e sociais desejáveis. Dessa forma, as cores dos olhos, reconhecidamente genéticas, os comportamentos não teriam marca nos genes.  
Os trabalhos do cientista Susumi Tenagawa assinalaram novo alento para a compreensão dessa complexa simbiose entre os corpos vivos e o meio. O autor demonstrou que as mudanças ocorridas nos linfócitos T, em consequência de infecções bacterianas e parasitárias, são transmitidas à geração seguinte e interferem no conjunto das respostas do sistema autoimune.
Essas pesquisas determinaram novas reconstruções frente às incontáveis dúvidas do evolucionismo, impondo outros caminhos para que pudéssemos pensar na forte interação sociogenética, expondo certos comportamentos tão genéticos quanto as cores dos olhos. De acordo com as teorias Tenagawa, ganhador do Nobel, é possível a transmissão aos descendentes imediatos das novas adaptações moleculares envolvendo formas celulares transitórias como as dos linfócitos T.
Não há por que duvidar da extensão dessa fantástica capacidade biológica para o processo ancestral presente em todas as espécies vivas, fundamental à sobrevivência: a recusa da dor e a busca do prazer-recompensa.
Nessa condição, a linguagem profunda que trata do prazer-recompensa e da dor concebida tanto no sagrado quanto no profano das relações sociais mantém assombrosa coerência: a fuga da dor, em todo o planeta, é imperativa!
A extraordinária adaptação dos humanos para fugir da dor, ao longo da ontogenia, estabeleceu complexa malha, na micro e na macro dimensão dos corpos, competente e duradoura, capaz de reger a base genética que molda e impulsiona o processo biológico e cultural da humanidade: infinitas ligações na forma (anatomia) e na função (fisiologia) dos corpos, marcadas na genética, criando incontáveis padrões identificadores das ameaças de dor e outros tantos que indicam os caminhos de fuga.
Pelo menos teoricamente, é possível pensar nos comportamentos como sendo tão genéticos quanto as cores dos olhos.