Amigos do Fingidor

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Catupiry – quem fica com a caixinha?



Pedro Lucas Lindoso

A primeira vez que comi queijo catupiry foi na casa de minha tia Helmosa Fadul, no Rio de Janeiro. Tia Helmosa era irmã de minha avó materna, Brigitta Daou. Era uma senhora muito culta. Ficou conhecida em Manaus por sua habilidade em declamar poesias.
Tia Helmosa foi muito amiga do Dr. Álvaro Maia, que governou o Amazonas por muitos anos. Minha tia datilografou e revisou muitos escritos literários do senador.
Naquele verão de 1965, o Rio de Janeiro comemorava o quarto centenário e eu, menino de calças-curtas, passava as férias na casa de minha tia na cidade maravilhosa.
O senador Álvaro Maia foi visitá-la e trouxe uma caixa redonda embrulhada em papel pardo. Era o famoso queijo catupiry.
Naquela época a embalagem do queijo catupiry era uma caixinha redonda com tampa, feita artesanalmente – uma a uma, de uma folha fina de madeira.
Tia Helmosa serviu o senador e a mim o famoso queijo acompanhado de doce de cupuaçu. O doce veio de Manaus especialmente para ela que o conservava diligentemente. A geleia era servida somente para pessoas e visitas especiais.
O doce de cupuaçu era uma sobremesa muito comum na mesa dos manauaras. Nos dias de hoje, parece que o creme e os bombons ficaram mais populares que a geleia. A receita é simples. Um quilo de polpa de cupuaçu para um quilo de açúcar.
Há muitos anos a embalagem do queijo catupiry passou a ser de plástico e apareceram as bisnagas e os baldes vendidos às pizzarias e restaurantes. A palavra catupiry se tornou sinônimo de requeijão cremoso.
Algumas marcas ficam tão famosas que acabamos nomeando o produto a partir delas. Mas o queijo catupiry, o legitimo da caixinha redonda, não é um simples requeijão. Muito menos ”cream cheese”.
Na década de sessenta não havia cupuaçu no Rio e nem queijo catupiry disponível para venda em Manaus. Era um tempo em que as pessoas levavam encomendas de doce de cupuaçu para os parentes no Rio. E traziam queijo catupiry para Manaus. 
Como já dito, o queijo vinha numa caixinha de madeira redonda com tampa, feita artesanalmente. As pessoas da família brigavam pelo queijo. Mas havia a disputa final – quem fica com a caixinha?