Pedro Lucas Lindoso
A primeira vez que comi
queijo catupiry foi na casa de minha tia Helmosa Fadul, no Rio de Janeiro. Tia
Helmosa era irmã de minha avó materna, Brigitta Daou. Era uma senhora muito
culta. Ficou conhecida em Manaus por sua habilidade em declamar poesias.
Tia Helmosa foi muito amiga
do Dr. Álvaro Maia, que governou o Amazonas por muitos anos. Minha tia datilografou
e revisou muitos escritos literários do senador.
Naquele verão de 1965, o Rio
de Janeiro comemorava o quarto centenário e eu, menino de calças-curtas,
passava as férias na casa de minha tia na cidade maravilhosa.
O senador Álvaro Maia foi
visitá-la e trouxe uma caixa redonda embrulhada em papel pardo. Era o famoso
queijo catupiry.
Naquela época a embalagem do
queijo catupiry era uma caixinha redonda com tampa, feita artesanalmente – uma
a uma, de uma folha fina de madeira.
Tia Helmosa serviu o senador
e a mim o famoso queijo acompanhado de doce de cupuaçu. O doce veio de Manaus
especialmente para ela que o conservava diligentemente. A geleia era servida
somente para pessoas e visitas especiais.
O doce de cupuaçu era uma
sobremesa muito comum na mesa dos manauaras. Nos dias de hoje, parece que o
creme e os bombons ficaram mais populares que a geleia. A receita é simples. Um
quilo de polpa de cupuaçu para um quilo de açúcar.
Há muitos anos a embalagem do
queijo catupiry passou a ser de plástico e
apareceram as bisnagas e os baldes
vendidos às pizzarias e restaurantes. A palavra catupiry se tornou sinônimo de
requeijão cremoso.
Algumas marcas ficam tão
famosas que acabamos nomeando o produto a partir delas. Mas o queijo catupiry,
o legitimo da caixinha redonda, não é um simples requeijão. Muito menos ”cream
cheese”.
Na década de sessenta não
havia cupuaçu no Rio e nem queijo catupiry disponível para venda em Manaus. Era
um tempo em que as pessoas levavam encomendas de doce de cupuaçu para os
parentes no Rio. E traziam queijo catupiry para Manaus.
Como já dito, o queijo vinha
numa caixinha de madeira redonda com tampa, feita artesanalmente. As pessoas da
família brigavam pelo queijo. Mas havia a disputa final – quem fica com a
caixinha?