Amigos do Fingidor

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Lábios que beijei 64


Zemaria Pinto
Janaína e o unicórnio azul



Quando nos conhecemos, a índia Janaína mal entrara na segunda década de vida, enquanto eu já me acercava das cinquenta. Às vezes, me parecia avoada, falando coisas sem nexo, textos que ela sabia de cor. Uma ocasião, deitada nua sobre mim, falou tu és meu unicórnio azul. Depois mostrou-me a ilustração de um unicórnio, branco, agasalhando-se no colo de uma jovem. Disse-lhe que achava a imagem de extremo mau gosto, pelo que fui chamado de tolo e estúpido, com a suavidade que lhe era natural. Somente o amor puro pode domar o unicórnio, metáfora da natureza livre. E porque azul? Unicórnios não existem – nem mesmo brancos, quanto mais azuis. Mas tu és o meu unicórnio azul.