Zemaria Pinto
Janaína e o unicórnio azul
Quando nos conhecemos,
a índia Janaína mal entrara na segunda década de vida, enquanto eu já me
acercava das cinquenta. Às vezes, me parecia avoada, falando coisas sem nexo,
textos que ela sabia de cor. Uma ocasião, deitada nua sobre mim, falou tu és
meu unicórnio azul. Depois mostrou-me a ilustração de um unicórnio, branco,
agasalhando-se no colo de uma jovem. Disse-lhe que achava a imagem de extremo
mau gosto, pelo que fui chamado de tolo e estúpido, com a suavidade que lhe era
natural. Somente o amor puro pode domar o unicórnio, metáfora da natureza
livre. E porque azul? Unicórnios não existem – nem mesmo brancos, quanto mais
azuis. Mas tu és o meu unicórnio azul.