Amigos do Fingidor

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Um milagre para cada santo



Pedro Lucas Lindoso

Minha avó materna era natural de Borba e, como toda borbense, devota de Santo Antônio. Herdei essa devoção. Doutor da Igreja, Santo Antônio afugenta erros, males e faz milagres incríveis.
 Muitos dos santos são especialistas em ser padroeiros ou protetores de certas classes ou profissões. São Lucas é dos médicos, Santo Ivo dos advogados, Santa Bárbara dos militares da Artilharia. São Cristóvão é relacionado a viagens e viajantes. Assim, é venerado por marinheiros, barqueiros e motoristas, principalmente os taxistas.
São Judas Tadeu é um dos santos mais populares e queridos. Conhecido patrono das causas impossíveis. São Sebastião é muito celebrado no Brasil inteiro. Com festas e feriados no dia 20 de janeiro como padroeiro de várias cidades, principalmente a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.
São Francisco é ecologista. O fato de falar com os pássaros e querer ser instrumento de paz o faz com que eu o considere santo nota dez.
Domingo passado fui convidado a almoçar uma caldeirada com uns primos de Manicoré. Havia sardinhas fritas, deliciosas por sinal. De repente um dos meninos se engasgou com espinha. Deram farinha. Nada. Água. Nada. Banana também não resolveu. A solução foi ligar para dona Chiquinha, comadre de minha prima Ana, moradora da Cachoeirinha. Tem solução para tudo. Chiquinha mandou rezar para São Brás. Santo que ficou conhecido porque retirou com a mão uma espinha da garganta duma criança. Mandou Ana rodar o prato três vezes e dizer: ”São Brás, São Brás. Livre-te Deus do mal da garganta”.
Na agonia, Ana trocou o nome do santo e acabou pedindo a São Bento. Saiu do quarto esbaforida. Meu Deus, rezei para o santo errado, dizia ela. Troquei São Brás por São Bento.
Lembrei-me do meu amigo Chaguinhas. Disse-me que só reza para Nossa Senhora do Bom Parto. E explicou-me: como ela não está acostumada a ouvir voz de homem, nos dá prioridade.
Só me restava tranquilizar a minha prima Ana. Disse-lhe que São Bento sempre se mostrou compassivo com os necessitados. Atende todo tipo de aflição. É polivalente. No que ela argumentou:
– Mas garganta não é especialidade dele!
Nessa hora, minha mulher sabiamente tranquilizou-a. Não se preocupe Ana. Quando os pedidos chegam lá em cima, eles redistribuem os milagres. Se for uma moça casadora, mandam direto para Santo Antônio. Os endividados, para Santa Edwiges. Doentes para São Camilo. E assim sucessivamente.
Depois de darem muita banana com farinha para o curumim, ele já tinha se desengasgado e corria pelo quintal. Devem ter redistribuído o pedido da Ana para São Brás. Um milagre para cada santo. Cada santo com o seu milagre.