João Bosco Botelho
A influência de Sócrates sobre Platão foi tão
grande que, sobretudo nas suas primeiras obras, é difícil distinguir quem de
fato, está falando: se o mestre ou o discípulo. Em muitos escritos platônicos,
Sócrates é apresentado como o tipo ideal do filósofo e o mártir do pensamento e
da busca da verdade e do bem.
Platão jamais aceitou a injustiça da
condenação do mestre e em vários livros renasce Sócrates com as mais belas
palavras sobre a verdadeira piedade e sobre a reta educação da juventude. Na
parte final do Fedro, 118, onde relata de maneira emocionante a morte do insuperável
mestre, Platão define Sócrates: “O homem... que, entre todos os de seu tempo,
era o melhor, o mais sábio e o mais justo”.
A História continua reverenciando Sócrates e
não lembra dos nomes dos algozes.
Depois da morte do mestre, Platão retirou-se
para Mégara, junto de Euclides e de Terpsíon, também discípulos de Sócrates.
Parece que, algum tempo depois, retornou a Atenas e junto aos seus irmãos, se
engajou nas campanhas militares de 395 a 394 a.C., na guerra de Corinto.
Como
era comum, naquela época, a grandeza do saber estava relacionado ao conhecimento
de outros povos e lugares. Em torno do ano 390 a.C., foi ao Egito levando uma
carga de azeite para pagar a viagem. A civilização egípcia, com pouca variação,
há milhares de anos, influenciou o pensamento de Platão quanto ao pressuposto
de ser preferível que os governantes mantenham o equilíbrio social em torno de
antigas idéias do que forçar a obediência coletiva às novas ordens.
Do Egito, dirigiu-se para Cirene, onde frequentou
a escola do matemático Teodoro, que seria um dos personagens do seu livro “Teeteto”.
De Cirene, viajou para a Itália, onde conheceu os pitagóricos Filolau, Árquitas
e Timeu. Não existe consenso se elas tenham tido alguma influência na reconhecida
crença platônica da transmigração e eternidade das almas.
Quando retornou a Atenas, no ano 388 a.C.,
com quarenta anos de idade, a guerra estava próxima do fim, por meio da paz de
Antálquidas. Contudo, o antigo esplendor ateniense passava por um período
político conturbado. É nsse ambiente, pleno de decadência dos valores, onde, de
certa forma, predominava o subjetivismo gnosiológico e ético, que se ergue
imponente a figura de Sócrates, de quem Platão recebeu a maior influência
filosófica e foi amigo e fiel ouvinte durante cerca de oito anos, até a morte
do Mestre.
Platão começou a ensinar, mas diverso do
mestre Sócrates, para reunir os seus discípulos, comprou um pequeno terreno nas
proximidades do ginásio de Academo, perto de Colona, terra natal de Sófocles.
Não se sabe ao certo o ano em que Platão
morreu, porém é fixado em 347 ou 346 a.C. A Academia sobreviveu até o ano 529
d. C., quando Justiniano determinou a sua extinção (Fig. 105).
Entre outras obras, Platão escreveu 28
diálogos: Mentira: Hípias menor; Dever:
Críton; Natureza humana: Alcibíades; Sabedoria: Cármides; Coragem: Laques; Amizade: Lísis; Piedade:
Eutífron e Retórica: Górgias e Protágoras.
Entre 387 e 361 a.C., escreveu os seguintes
livros com os enfoques sobre: Menexeno
e Ménon: a virtude; Eutidemo: a erística; Crátilo: a justeza dos nomes; O
Banquete: o amor; Fédon e A República: a justiça; Fedro e Teeteto: a ciência.
Os diálogos da maturidade: O Sofista: o ser; O Político e Timeu: a
natureza; Crítias: a Atlântida; Filebo: o prazer e As leis: organização social.
É difícil expressar na linguagem oral a
grandeza humana de Platão!