Amigos do Fingidor

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

A poesia é necessária?

 

O gato 

Adriano Espínola

                                                              A Antônio Paulo Graça

 

 

Elástico,

caminha sobre o muro.

 

Com o focinho,

empurra a luz da manhã.

 

As patas ondulam,

silenciosas.

 

Refulge,

negramente esculpido,

na claridade.

 

É denso, atento, perfeito.

 

*

 

No entanto,

entre o chão e o ar,

 

o veloz perfil

desenha enigmas:

 

o gato é anterior

ou posterior às coisas?

 

Avança sobre a vigília

ou o sonho?

 

Que estágio da matéria

espreita o gato?

 

*

 

Ali, ele para, pensativo.

 

Múltiplo

e sábio,

 

calcula o espaço

entre seu corpo

 

– e o telhado em frente.

 

Súbito,

salta

sobre o invisível.