O gato
Adriano Espínola
A Antônio Paulo Graça
Elástico,
caminha sobre o muro.
Com o focinho,
empurra a luz da manhã.
As patas ondulam,
silenciosas.
Refulge,
negramente esculpido,
na claridade.
É denso, atento, perfeito.
*
No entanto,
entre o chão e o ar,
o veloz perfil
desenha enigmas:
o gato é anterior
ou posterior às coisas?
Avança sobre a vigília
ou o sonho?
Que estágio da matéria
espreita o gato?
*
Ali, ele para, pensativo.
Múltiplo
e sábio,
calcula o espaço
entre seu corpo
– e o telhado em frente.
Súbito,
salta
sobre o invisível.