Sabor a mi
Zemaria Pinto
Depois
de tanto tempo é difícil acreditar que acabou. Mas acabou. Não me iludo e nem
tenho a vaidade de impedir que ela se vá. Minha pobreza me basta a mim mesmo: ela
estará melhor longe de mim. O meu triunfo é trazer na boca o gosto de seus
fluidos, uma mistura de odores e sabores que se definem com a posição do sol, as
fases da lua, o alinhamento das estrelas. E saber que, para sempre, ela sentirá
na boca o meu sabor – do meu café, do meu tabaco, do meu uísque e do meu suor.
Sabor de mim.
Sabor a mi (1959), de Álvaro Carrillo (México,
1921-1969). Bolero.
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