Pedro Lucas Lindoso
Shakespeare
viveu na Inglaterra Medieval. Mas suas peças sincronizam com os dramas da
atualidade. Acontece com todos os clássicos. Por isso perpassam os anos e
continuam encantando os leitores.
No
conhecido drama de Romeu e Julieta os jovens se apaixonam perdidamente. No
entanto, ambas as famílias têm uma longa história de disputas. Eles se conhecem
num baile de máscaras. Não poderiam imaginar que aquele amor poderia causar
tantos infortúnios. Ao final, proibidos de viverem essa história de amor, eles
escolhem a morte. Uma tragédia causada por famílias antagônicas.
O fato
é que muitos enamorados mundo afora e em diversas épocas e circunstâncias
enfrentam entraves para a realização de seu amor. Tudo em razão de questões
familiares, políticas e até mesmo ideológicas.
Já o
livro Todos os nossos ontens, da italiana Natália Ginsburg, entre vários
relatos interessantes, discorre sobre um casamento entre dois jovens de
famílias politicamente antagônicas durante o regime fascista que precedeu e
protagonizou a Segunda Guerra Mundial.
Feitas
essas considerações de cunho literário, passo a relatar notícia dada por tia
Idalina sobre uma jovem Julieta amazonense, moradora atualmente no Rio de
Janeiro.
A
garota é filha de um senhor extremamente conservador e anticomunista ferrenho.
Pois bem, nossa Julieta apaixonou-se por um jovem médico militante do PSOL,
partido reconhecidamente de esquerda.
O
namoro iniciou-se um pouco antes da pandemia. Transformou-se em paixão durante
os meses de isolamento. Quando o velho pai soube, veio logo com um estranho e
indefectível silogismo.
– Todo
comunista deve ser odiado. Seu namorado é comunista, portanto...
Silogismo
é um termo criado pelo filósofo Aristóteles para explicar o raciocínio por meio
de dedução. A premissa de que todo comunista deve ser odiado foi tida como
totalmente falsa para a Julieta. Não pode negar a segunda premissa. Também
rapidamente concluiu que seu pai odiaria seu grande amor para sempre. Conclusão
desoladora.
Tia
Idalina me informa que a moça está inconsolável. Só não entende como uma pessoa
tão extremista e conservadora pode gostar de filosofia aristotélica.