Amigos do Fingidor

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A poesia é necessária?

 Não havia o tempo em calendários

João de Jesus Paes Loureiro

 

Não havia o tempo em calendários

nas escrituras da cidade e das ilhas.

Não havia o tempo de sonhar

e tempo a trabalhar.

Tempo para ser

e tempo de não-ser.

Havia sim o tempo para o tempo,

pois o tempo era integral

para si mesmo.

Não havia tempo do real

fora do tempo imaginário.

Era o tempo diverso em um só tempo.

O tempo-aquele igual a aquele-tempo.

Não havia o tempo de plantar

e tempo de colher.

Tudo era o tempo

de colher a plantar.

E de plantar colhendo.

Tempo individido

sem tempo para isso

ou tempo para aquilo.

Era o tempo superposto ao tempo

e cada tempo era sempre

o tempo todo.

Tempo do ser e do não-ser.

Era um só tempo real-imaginário

enlaçando a si mesmo.

Tempo único.

O tempo

só.

Unicotempo.