Pedro Lucas Lindoso
Para
muitos brasileiros do Sul e do Sudeste, Manaus só tem uma história. A história da floresta, dos rios, dos índios
e dos ribeirinhos. É a única história. O
Rio de Janeiro, por exemplo, tem várias histórias. Não só as das favelas e das balas perdidas. O
Rio tem histórias de Copacabana. De
Ipanema e sua garota famosa. Da Lapa e seus mistérios. Da bossa nova. Do Cristo
Redentor e do Corcovado. Do samba e do Carnaval. Histórias conhecidas por
brasileiros e estrangeiros. E nossa
Manaus? Qual a história que eles conhecem? Rios, matas e caboclos remando
canoas.
Quando
vou ao Sudeste ou recebo aqui amigos de lá percebo que ficam surpresos com a
Manaus urbana. Cidade metrópole com
shoppings, avenidas, arranha-céus, trânsito, bons restaurantes, casas noturnas,
bons bares e condomínios residenciais de luxo.
E surpreendem-se
porque Manaus só é conhecida por uma única história. Aquela dos rios, da
floresta e dos ribeirinhos. Não sabem ou pouco estudaram o Ciclo da
Borracha. Época em que tínhamos o maior
PIB do Brasil e a moeda corrente aqui era a libra esterlina.
Mas o
imaginário persiste. Em época de eleição o Jornal Nacional mostra as famosas
urnas eletrônicas sendo transportadas em canoas e rabetas. É aquela única e
persistente história.
Nesse
fatídico ano de 2020 nossa querida cidade completa 351 anos de muita História.
Conquistas, avanços e maus tratos, governos e desgovernos. Mas habitada por
gente de valor. Que trabalha, estuda, empreende, luta, acredita, ama. E gosta
de viver aqui. E sabe que não temos só a história que eles conhecem. Dos rios e
das matas. Que tanto nos orgulha.
Nesse
triste ano de pandemia Manaus ficou conhecida como a cidade onde a Covid foi
excepcionalmente mais perversa. Nos primeiros meses da pandemia o Jornal
Nacional propagava para o Brasil e o mundo uma cidade que não conseguia
enterrar seus mortos. Fileiras de covas de nossos cemitérios eram mostradas
para o Brasil e o mundo.
Graças
a Deus as coisas melhoraram. Mas viajando ao Sudeste fui questionado. Nossa,
você é de Manaus? A cidade do Covid?
Tínhamos
uma única história conhecida no Sul e no Sudeste. A dos rios e da floresta.
Agora temos uma segunda história. A do
Covid.
O que
desejo nesse aniversário? Que os nossos irmãos brasileiros não nos conheçam por
essas duas únicas histórias.
Precisamos
mostrar que temos muitas Histórias.
Nosso Teatro, nossos festivais de ópera, jazz e o de Parintins. Nossa
culinária fantástica. Nosso polo industrial. Nossa herança histórica. Nosso
mobiliário urbano. Nossa gente
miscigenada e feliz. Nosso porto e nosso rio. A nossa ponte, nossos palácios e
museus.
Não
merecemos ter só duas histórias. Não merecemos ser a Manaus da Covid. Manaus é
maior que duas únicas histórias. Sabemos
disso.
Feliz
aniversário Manaus. De muitas histórias e de muitos amores. Ah! Se eles
soubessem!