Amigos do Fingidor

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A poesia é necessária?

Consciência Cósmica

Guimarães Rosa (1908-1967)

 

Já não preciso de rir.

Os dedos longos do medo

largaram minha fronte.

E as vagas do sofrimento me arrastaram

para o centro do remoinho da grande força,

que agora flui, feroz, dentro e fora de mim…

 

Já não tenho medo de escalar os cimos

onde o ar limpo e fino pesa para fora,

e nem de deixar escorrer a força dos meus músculos,

e deitar-me na lama, o pensamento opiado…

 

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,

a dança das espadas de todos os momentos.

e deveria rir, se me restasse o riso,

das tormentas que poupam as furnas da minha alma,

dos desastres que erraram o alvo do meu corpo…