Consciência Cósmica
Guimarães Rosa (1908-1967)
Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me
arrastaram
para o centro do remoinho da grande
força,
que agora flui, feroz, dentro e fora
de mim…
Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para
fora,
e nem de deixar escorrer a força dos
meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento
opiado…
Deixo que o inevitável dance, ao meu
redor,
a dança das espadas de todos os
momentos.
e deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da
minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do
meu corpo…