Amigos do Fingidor

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A selva: a verdade da ficção e a ficção da verdade – 3/14


Zemaria Pinto

 

Os livros

Ao primeiro livro – o citado Criminoso por ambição –, escrito aos 14 e publicado aos 18 anos, em Belém, seguiram-se, ainda em terras paraenses, a novela Rugas sociais e as peças Alma lusitana e O rapto. Em 1919, Ferreira de Castro troca o sucesso obtido na Amazônia pelo anonimato em Lisboa. Mas não duraria muito tempo. Em 1922, publica seu primeiro livro português: Mas..., de ensaios. No mesmo ano, sai a novela Carne faminta, onde o autor evoca a “angústia da fome sexual na selva amazónica” (BRASIL, p. 40). Título emblemático, como se verá adiante, na análise de A selva. E assim, à razão de dois livros por ano, ele segue até 1927. Mais tarde, toda essa produção imatura seria rejeitada pelo autor, sob a justificativa de que não passavam de simples experiências, exercícios de estilo.

Em 1928, Ferreira de Castro dá um salto qualitativo na sua obra, com o romance Emigrantes, passado no Brasil. O trabalho repercute para além dos círculos intelectuais de Lisboa.

Finalmente, “de 9 de abril a 29 de novembro de 1929” (CASTRO, 1989b, p. 19), quinze anos passados desde aquele 28 de outubro de 1914, em que deixara o seringal Paraíso, Ferreira de Casto escrevia A selva, publicado no ano seguinte.

O escritor maduro já não tem pressa para fazer fluir sua obra fictícia, o que vai acontecendo lentamente: Eternidade (1933), Terra fria (1934), A tempestade (1940), A lã e a neve (1947), A curva da estrada (1950), A missão (1954) e Instinto supremo (1968).

O sucesso alcançado por A selva, em escala internacional – Ferreira de Castro chegou a ser considerado, não sem controvérsia, um renovador do romance português –, toldou a avaliação crítica da obra, especialmente, no Brasil, onde ainda é, e com justa razão, a maior referência na prosa de ficção que trata do ciclo econômico da borracha. A revisão a que nos propomos é quanto à essência da obra – desde as falhas na arquitetura histórica da trama até a estruturação psíquica das personagens. Não nos move destruir o mito, mas sim lançar sobre ele a luz de um novo entendimento. E de uma vez por todas – será isso possível? – desassociar a figura da personagem de ficção Alberto da figura histórica do escritor José Maria Ferreira de Castro. Separar a verdade da ficção da ficção da verdade.

 

Os 14 capítulos de A selva: a verdade da ficção e a ficção da verdade serão publicados sempre às segundas-feiras. 

Mas você pode obter o livro completo clicando nesta linha.