Zemaria Pinto
Os livros
Ao primeiro livro – o citado Criminoso
por ambição –, escrito aos 14 e publicado aos 18 anos, em Belém,
seguiram-se, ainda em terras paraenses, a novela Rugas sociais e as
peças Alma lusitana e O rapto. Em 1919, Ferreira de Castro troca
o sucesso obtido na Amazônia pelo anonimato em Lisboa. Mas não duraria muito
tempo. Em 1922, publica seu primeiro livro português: Mas..., de
ensaios. No mesmo ano, sai a novela Carne faminta, onde o autor evoca a
“angústia da fome sexual na selva amazónica” (BRASIL, p. 40). Título
emblemático, como se verá adiante, na análise de A selva. E assim, à
razão de dois livros por ano, ele segue até 1927. Mais tarde, toda essa
produção imatura seria rejeitada pelo autor, sob a justificativa de que não
passavam de simples experiências, exercícios de estilo.
Em 1928, Ferreira de Castro dá um salto
qualitativo na sua obra, com o romance Emigrantes, passado no Brasil. O
trabalho repercute para além dos círculos intelectuais de Lisboa.
Finalmente, “de 9 de abril a 29 de
novembro de 1929” (CASTRO, 1989b, p. 19), quinze anos passados desde aquele 28
de outubro de 1914, em que deixara o seringal Paraíso, Ferreira de Casto
escrevia A selva, publicado no ano seguinte.
O escritor maduro já não tem pressa para fazer
fluir sua obra fictícia, o que vai acontecendo lentamente: Eternidade
(1933), Terra fria (1934), A tempestade (1940), A lã e a neve
(1947), A curva da estrada (1950), A missão (1954) e Instinto
supremo (1968).
O sucesso alcançado por A selva, em
escala internacional – Ferreira de Castro chegou a ser considerado, não sem
controvérsia, um renovador do romance português –, toldou a avaliação crítica
da obra, especialmente, no Brasil, onde ainda é, e com justa razão, a maior referência
na prosa de ficção que trata do ciclo econômico da borracha. A revisão a que
nos propomos é quanto à essência da obra – desde as falhas na arquitetura histórica
da trama até a estruturação psíquica das personagens. Não nos move destruir o
mito, mas sim lançar sobre ele a luz de um novo entendimento. E de uma vez por
todas – será isso possível? – desassociar a figura da personagem de ficção
Alberto da figura histórica do escritor José Maria Ferreira de Castro. Separar
a verdade da ficção da ficção da verdade.
Os 14 capítulos de A selva:
a verdade da ficção e a ficção da verdade serão publicados sempre às
segundas-feiras.