Perfume de gardenia
Zemaria Pinto
Te ter
como amiga é mais que um privilégio: é uma dádiva divina. Repara como todos nos
olham: entre a inveja e a admiração sobra espaço para muito pensamento vil.
Mas só eu, olhando bem de perto, percebo a música dos teus cabelos, o mar
revolto em teus olhos, as notas cintilantes da tua voz e o poema que se enforma
em teu sorriso. Visto de qualquer ângulo, teu corpo tem a perfeição de uma
escultura antiga. Olha estas mãos, estes braços. E as coxas, fala pra mim?... Ruborizas...
É um reflexo de tua alma, sussurrando: cuidado com ela... Não me temas: se alguém
corre perigo sou eu. Mas é consciente. Olha, daqui já percebo teu hálito morno,
embriagante. Chega mais perto. Que cheiro é esse, mulher? Gardênia?
Perfume de gardenia (1936), de Rafael Hernández (Porto
Rico, 1892-1965). Bolero.
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