Amigos do Fingidor

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Bolero's Bar 13

 Perfume de gardenia 

Zemaria Pinto


Te ter como amiga é mais que um privilégio: é uma dádiva divina. Repara como todos nos olham: entre a inveja e a admiração sobra espaço para muito pensamento vil. Mas só eu, olhando bem de perto, percebo a música dos teus cabelos, o mar revolto em teus olhos, as notas cintilantes da tua voz e o poema que se enforma em teu sorriso. Visto de qualquer ângulo, teu corpo tem a perfeição de uma escultura antiga. Olha estas mãos, estes braços. E as coxas, fala pra mim?... Ruborizas... É um reflexo de tua alma, sussurrando: cuidado com ela... Não me temas: se alguém corre perigo sou eu. Mas é consciente. Olha, daqui já percebo teu hálito morno, embriagante. Chega mais perto. Que cheiro é esse, mulher? Gardênia?

 

Perfume de gardenia (1936), de Rafael Hernández (Porto Rico, 1892-1965). Bolero.


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