Amigos do Fingidor

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A poesia é necessária?

 Prece

Antonin Artaud (1896-1948)

 

Ah dá-nos crânios de brasa crânios
Pelas faíscas do céu queimados
Lúcidos crânios, crânios reais
Por tua presença traspassados

Que renasçamos nos céus internos
Crivados de abismos efervescentes
E que vertigens nos atravessem
Com suas unhas incandescentes

Vem saciar-nos que temos fome
De comoções intersiderais
Em nossas veias em vez de sangue
Despeja agora lavas astrais

Vem desprender-nos, vem dividir-nos
Com tuas mãos, brasas de corte
Para nós abre os tetos ardentes,
Onde se morre pra lá da morte

No mais profundo de sua ciência
Confunde, abala nossa razão
Arrebatando-lhe a inteligência
Nas garras novas de um furacão

 

(Trad. Mário Faustino)