Bom dia
Zemaria Pinto
Só
faltava o banheiro. Torci a maçaneta devagar, esperando encontrar resistência
da porta, trancada por dentro. Abriu como se fosse brisa. Sobre a pia, a imagem
nojenta da toalha largada de qualquer jeito, e na toalha o toque diabólico de
algum saci brincalhão: bom dia! Era tudo o que eu precisava. Cheguei até a
pensar que era mais uma das brincadeiras dele, de gosto sempre duvidoso. Aquele
era o único vestígio de sua passagem pela casa, após tanto tempo. Voltei para a
cama vazia, o travesseiro como se fora novo, em vão. É isso o amor, me diga?!
Uma palavra retumba desde então na minha cabeça, como os tam-tans do terreiro
de Mãe Zulmira: ridículo... ridículo... ridículo...
Bom dia (1942), de Herivelto Martins (Rio de
Janeiro, 1912-1992) e Aldo Cabral (Rio de Janeiro, 1912-1994). Samba-canção.
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