Amigos do Fingidor

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Bolero's Bar 14

Bom dia 

Zemaria Pinto


Só faltava o banheiro. Torci a maçaneta devagar, esperando encontrar resistência da porta, trancada por dentro. Abriu como se fosse brisa. Sobre a pia, a imagem nojenta da toalha largada de qualquer jeito, e na toalha o toque diabólico de algum saci brincalhão: bom dia! Era tudo o que eu precisava. Cheguei até a pensar que era mais uma das brincadeiras dele, de gosto sempre duvidoso. Aquele era o único vestígio de sua passagem pela casa, após tanto tempo. Voltei para a cama vazia, o travesseiro como se fora novo, em vão. É isso o amor, me diga?! Uma palavra retumba desde então na minha cabeça, como os tam-tans do terreiro de Mãe Zulmira: ridículo... ridículo... ridículo... 

 

Bom dia (1942), de Herivelto Martins (Rio de Janeiro, 1912-1992) e Aldo Cabral (Rio de Janeiro, 1912-1994). Samba-canção.


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