Amigos do Fingidor

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Ponham a mão na consciência

Pedro Lucas Lindoso

  

Em 20 de novembro de 2003, Jovino, um jovem negro brasiliense, aguardava o nascimento de seu primogênito em uma maternidade pública do Distrito Federal.

O Correio Braziliense daquele dia noticiava a intenção dos movimentos culturais de valorização da negritude em comemorar a data homenageando Zumbi dos Palmares. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão. Zumbi lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, deve ser lembrado e comemorado como o Dia da Consciência Negra.

Jovino pensou então em batizar o rebento de Zumbi. A esposa protestou com veemência. Disse-lhe que Zumbi significa alma penada que vagueia pela noite. O filho com certeza seria discriminado pela sua cor de pele. Se carregasse esse nome sua vida seria um inferno. Jovino obedeceu à esposa e o garoto foi batizado como Alessandro. Mas o pai o chama desde sempre de Zumbi. E o apelido pegou.

Alessandro gosta do apelido e tem até orgulho em ter nascido no dia 20 de novembro. Prepara-se para cursar Sociologia e História na UnB. É excelente aluno e deverá ingressar na faculdade em breve.

Já descobriu que seus bisavôs eram descendentes de chefes tribais da Nigéria. Não se considera descendente de escravos e sim de valorosos guerreiros da mãe África. Alessandro Zumbi defende o 20 de novembro de 1695 como data a ser comemorada pela negritude brasileira. Muito mais significativa que o 13 de maio de1888.

Aqui em Manaus há duas ruas alusivas ao fim da escravidão. 24 de maio de 1884, quando a cidade aboliu a escravidão, e 10 de julho, do mesmo ano, pelo Estado do Amazonas. No último dia 15 de novembro, além da Proclamação República, comemorou-se o dia nacional de combate ao racismo.

O jornalismo televisivo, além da cobertura das eleições, noticiava que naqueles dias duas mulheres negras haviam sido vilipendiadas, em razão de sua cor. Uma delas por um conhecido advogado. Com tantas datas referentes ao fim da escravidão, muitos brasileiros não têm consciência que racismo é crime. Quando o crime é direcionado a uma pessoa, ele é considerado uma injúria racial.

É deplorável. Aos racistas e intolerantes, quando se comemora o Dia da Consciência Negra, um conselho:

– Ponham a mão na consciência!