Amigos do Fingidor

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A poesia é necessária?

 Poética I

Alencar e Silva (1930-2011)

 

Não o poema-verso simplesmente,

mas o poema-coisa, sim: substância

inefável, sim: coisa que funcione

como relógio e o que ele preconiza.

 

Assim, sem asco aceito-o integral

como uma pedra ou coisa-viva incômoda

que fere e entanto dá-se em forma e gosto

à natureza que a urdiu. Poema:

 

eia! deserto povoado. Fruto

onde a fome espreitava a presa. Chuva

onde a sede lavrava seu incêndio.

 

Incessante doar-se em ponte e veículo

ao evento da coisa – corpo vivo

intato sobre as águas do poema.