Amigos do Fingidor

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Bolero's Bar 15

Encadenados 

Zemaria Pinto


É mais forte que a nossa vontade, não tem sentido, não tem controle. Se tu vais, retornas. Se eu vou, me encontras. É uma maldição: acorrentados um ao outro por toda a vida. O amor como martírio, o desejo como castigo. E esse eterno regressar é como um estúpido relógio: cumprido o ciclo, ele começa tudo de novo até que o mecanismo emperre, desgastado pelo tempo. Esse é o nosso futuro – amar com a força do ódio, sem prazo para acabar. Por isso, nada de despedidas. Foi-se o tempo em que eu ficava chorando pelos cantos, descabelada, pensando em suicídio. Em vez disso, mergulho na serenidade da tua ausência, até que a tua volta produza uma nova chaga, que, como as outras, nunca cicatrizará.

 

Encadenados (1956), de Carlos Arturo Briz (México, 1917-1973). Bolero.


No Spotify, ouça a playlist Bolero’s Bar.