Encadenados
Zemaria Pinto
É mais
forte que a nossa vontade, não tem sentido, não tem controle. Se tu vais,
retornas. Se eu vou, me encontras. É uma maldição: acorrentados um ao outro por
toda a vida. O amor como martírio, o desejo como castigo. E esse eterno regressar
é como um estúpido relógio: cumprido o ciclo, ele começa tudo de novo até que o
mecanismo emperre, desgastado pelo tempo. Esse é o nosso futuro – amar com a
força do ódio, sem prazo para acabar. Por isso, nada de despedidas. Foi-se o
tempo em que eu ficava chorando pelos cantos, descabelada, pensando em suicídio.
Em vez disso, mergulho na serenidade da tua ausência, até que a tua volta produza
uma nova chaga, que, como as outras, nunca cicatrizará.
Encadenados (1956), de Carlos Arturo Briz (México, 1917-1973). Bolero.
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