Pedro Lucas Lindoso
Eu fico
muito ansioso em vésperas de eleições. Confesso que gosto muito de ir às urnas.
Não é só porque me preocupo em bem escolher nossos representantes. O fato é que
passei anos sem votar. Meu primeiro título era um cartão de ¼ de folha. No
verso havia espaços quadriculares para carimbo e comprovação de votação. Não se
podia “plastificar”. Acabei plastificando o meu, por desgosto. Não tinha
serventia. Era só um registro. Requerido somente para fins de concurso público
e expedição de passaporte.
Eu era
eleitor de Brasília, Distrito Federal. Fui morar lá ainda menino e aos 18 anos
tirei meu título. Em 1975 não havia eleições em Brasília. Só fui votar em 1990,
aos 33 anos. Idade em que o Cristo foi crucificado.
No
próximo dia 15 os eleitores de Brasília não vão às urnas. Lá não há prefeito
nem vereadores. O DF é dividido em regiões administrativas. Os administradores
são escolhidos pelo governador.
Somente
depois da Constituição Federal de 1988 é que o Distrito Federal passou a ter
representação política. Ulisses Guimarães disse que Brasília era uma cidade
“cassada”. Com a Constituição Cidadã a cidade ganhou uma Câmara Distrital e
representação no Congresso Nacional. É renovada de 4 em 4 anos, quando se lege
o presidente e os governadores.
Quando
tirei meu título, na época dos militares, não se votava para presidente e nem
para governadores. Mas havia eleições nos estados. Aqui no Amazonas votava-se
para o Congresso Nacional e para a Assembleia. Em Brasília não havia ainda a
Câmara Legislativa. O governador era escolhido pelo Presidente da República,
que era sempre um general, junto com os ministros de estado.
Em 1996
iniciou-se o uso de urnas eletrônicas. Todas as capitais e grandes cidades
começaram a utilizá-las. Eu não votei naquele ano. Era eleição para prefeito e
vereadores. O Distrito Federal não participou por não os eleger. Naquele mesmo
ano uma nova lei estabeleceu o modelo em vigor do título eleitoral. Houve um
recadastramento. O meu velho e original título ficou “plastificado ad aeternum”
e nunca foi utilizado, nem o verso carimbado. Houve um tempo em se votava
escrevendo o nome dos candidatos. Ou em pequeninas cédulas impressas e
distribuídas pelos próprios candidatos.
Cacareco
foi um rinoceronte do Zoológico do Rio de Janeiro, emprestado ao Zoológico de
São Paulo. Nas eleições municipais de um distante outubro, Cacareco recebeu
milhares de votos para vereador. Tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro.
Nessas eleições não vote no Cacareco. Mesmo porque o nome dele não consta das
urnas eletrônicas.