Amigos do Fingidor

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A doença como mal: tornando visível o invisível


 
João Bosco Botelho

 

            O corpo, visto e sentido como expressão de vida, impulsiona o ser, pensante e finito, a buscar explicação das mudanças nele produzidas, interpretando‑as como antecipação da morte. 

            Ao chamarmos “paciente” o homem doente, para diferenciá‑lo do sadio, é inevitável aceitar dupla emoção determinada pelo choque entre o real e o imaginário, causada pela consciência da doença em si mesma. A primeira, realçada pelo visível e relacionada à enfermidade (tumor, mancha etc.) e a segunda, fruto do exercício mental, procurando interpretar a alteração visível no corpo.

            A experiência ou a possibilidade de sentir dor, serve como exemplo. O desconforto doloroso é o componente real. A explicação dela, nascida no sofrimento, é profundamente mesclada pelas raízes socioculturais integrantes do imaginário do doente.

            O conjunto simbólico, ainda sem explicação neurofisiológica finalizada, trabalha para dar sentido e unir o objetivo ao subjetivo. Essa complexa elaboração cerebral utiliza mecanismos cere­brais ainda muito pouco conhecidos, capazes de engendrar respostas mentais intimamente relacionadas com o universo mítico do doente.  O processo fisiológico determinado pela dor, invisível, acaba consoante à mitopoese (mecanismos socioculturais que criam os mitos).

            Entre as muitas respostas para superar o sofrimento, está a organização do MAL, formando a objetividade da doença como pre­cursora da morte. Assim, é viabilizada a resposta fundamental do corpo para entender a doença: o invisível se torna visível!

            De maneira semelhante, a saúde é transformada em BEM e colo­cada em oposição frontal à doença como MAL.

            O movimento dialético entre ser e não‑ser (aqui compreendi­dos como correspondentes aos binômios saúde e doença, vida e morte) se faz sempre vinculado às forças contrárias (cósmicas, morais e naturais) que se opõem ao ideal do projeto existencial ou da ordem ético‑social.